Marcelo D2 - Iboru | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Marcelo D2 – Iboru

Contemplando o samba, o terreiro e outras brasilidades, Marcelo D2 apresenta o inovador Iboru, que sejam ouvidas nossas súplicas”, 9º álbum de sua carreira solo que conta com 16 músicas, sendo 12 delas de sua própria autoria, e com as participações mais do que especiais de Nega Duda, Mateus Aleluia, Metá Metá, BNgão, Pedro Garcia, Alcione, Mumuzinho, Romildo Bastos, Zeca Pagodinho e Xande De Pilares.

Na última quarta-feira (14), D2 apresentou o Iboru ao vivo pela primeira vez no palco da Audio Club em São Paulo e a Moodgate esteve lá para conferir essa memorável estreia. Confira aqui a cobertura completa do show.

A obra começa com uma saudação, como a própria expressão significa, SARAVÁ., e ninguém melhor para dar as boas-vindas do que um intérprete de samba-enredo. A voz da vez é de Wander Pires, que abre o disco com seu popular grito de guerra: “a hora é essa”. Mas calma, chega no sapatinho, como o próprio D2 diz logo no primeiro verso: “se for da paz, pode entrar; se não, ideia pouca chapa”.

POVO DE FÉ. vem na sequência trazendo o ritmo de um clássico samba de terreiro. “Firma ponto na palma da mão. Dá um gole pro chão que é pro santo beber”, canta na segunda parte da música, em meio a um lindo coro inconfundível por quem já esteve nas rodas de samba cariocas. Nessa música, D2 assina a autoria conjunta com o escritor, compositor e historiador Luiz Antonio Simas, parceria que também esteve presente no último álbum do cantor Assim Tocam os MEUS TAMBORES. Simas é figura conhecida por explorar de maneira aprofundada as raízes culturais brasileiras em seus livros, principalmente no que diz respeito à zona norte do Rio de Janeiro.

ATÉ CLAREAR. percorre caminhos da cidade do Rio enquanto homenageia grandes mestres do samba, entre eles João Nogueira e Arlindo Cruz, pais de Diogo Nogueira e Arlindinho Cruz, que são dois dos autores dessa canção. A letra trata o subúrbio carioca com muita familiaridade, e é fácil perceber que foi feita por quem conhece o lugar e sabe em cada canto que está pisando. O trecho “pulei no 918, lá da ‘rua i’ parei no Irajá” é de grande imersão para quem conhece esse espaço, pois trata-se de uma linha de ônibus com trajeto de Bangu até Bonsucesso, passando por Irajá, todos bairros da zona norte. Para quem não conhece, é um convite para adentrar um Rio de Janeiro que não é mostrado nas novelas e nem no cinema; Rio esse onde Marcelo D2 é nascido e criado. Até Clarear se encerra com um diálogo do filme Boyz N The Hood (Donos da Rua) que fala sobre a aproximação do personagem com a fé.

KALUNDU. inicia o segundo ato do disco e parte de um samba tradicional para algo mais experimental e de terreiro. A faixa conta com um trabalho impecável dos músicos Kiko Dinucci e Maycon Ananias nos instrumentos de cordas e percussão, ambientando uma trilha épica à brasileira combinado com o flow de Marcelo D2 e a voz poderosa e ecoante de Mateus Aleluia. O resultado é algo muito único, um verdadeiro hip hop de terreiro. TAMBOR DE AÇO. vem em seguida, mantendo a mesma pegada, dessa vez um pouco mais acelerada e com tambores muito marcantes. Nesta, D2 conta com a participação de Nave e Tropkillaz.

TEMPO DE OPINIÃO., com participação da banda de jazz Metá Metá, explora um ritmo mais cadenciado novamente e mostra que o disco está para ingressar em seu terceiro ato, no qual se tornará uma obra mais popular ao misturar diversos tipos de brasilidades. Nesse sentido, O SAMBA FALARÁ + ALTO. cria uma sonoridade muito única ao, mais uma vez, misturar batidas de hip hop com o samba. Desta vez, um trompete extremamente marcante é integrado, acompanhando a letra do início ao fim. Participam aqui Alcione e Mumuzinho, que entoam suas vozes em um refrão arrepiante.

Caminhando para o fim do disco, Zeca Pagodinho chega com Xande De Pilares para fazer aquela bagunça arrumada em BUNDALELÊ. Um som animado pra colocar no churrasco de domingo, bater na palma da mão e arriscar uma sambadinha depois de algumas cervejas. Você pode até pensar que já ouviu essa música antes, afinal, é isso o que ela pretende: trazer uma familiaridade do que é o Brasil, ou pelo menos uma parte mágica e cativante dele.

PRA CURAR A DOR DO MUNDO. é a última faixa. Não tem muito o que dizer nem explicar, basta ouvir, absorver e sentir. Está tudo ali. E com um monólogo, D2 encerra a obra: “O que eu vi, sou eu. O que eu senti, que eu sofri, sou eu. Sou eu quando eu quero, até quando eu não quero ser. Por isso, eu só morro quando o meu samba morrer.”, canta o artista. “Sou eu andando fora da linha. Sou eu andando nos trilhos. Sou eu no sorriso dos meus antepassados. E também no sorriso dos meus filhos. Sou eu na dor e no prazer. Por isso, eu só morro quando o meu samba morrer. Eu sou a força da minha mãe e a fraqueza dela também. Sou a alegria do meu pai e a tristeza dele também. Sou novo, tradição, sou rap, samba no pé. Soldado filho de Ogum, certeza do meu axé. De tudo que passou por mim, eu sou o que eu posso ser. Por isso, eu só morro quando o meu samba morrer”.

Iboru mostra a importância de se vislumbrar o passado, fazendo uma alusão ao ditado iorubá “Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje”. Desta forma, trazendo o passado de volta, o disco faz um profundo mergulho na ancestralidade, nas culturas da zona norte do Rio de Janeiro, no terreiro, no samba de raíz, nas ruas e nas distintas formas de se fazer música no Brasil. Existe, aqui, uma vasta riqueza de detalhes que só o tempo e muitas revisitações permitirão sua compreensão em totalidade, se é que isso é possível.

Mas, uma coisa é certa: Marcelo D2 segue fazendo do rap com o samba uma combinação perfeita, igual feijão com arroz e queijo com goiabada.

Nota: 9

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