Moods de outubro: Sufjan Stevens, Pitty, Drake, Ana Frango Elétrico e Ed Motta | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Moods de outubro: Sufjan Stevens, Pitty, Drake, Ana Frango Elétrico e Ed Motta

Com novos álbuns sendo anunciados todos os dias, é fácil se perder nos lançamentos do mês e deixar aquele disco especial passar despercebido. É por isso que, todos os meses, a curadoria da Moodgate seleciona um conjunto de projetos que, na nossa opinião, merecem uma chance — seja pela relevância ou pela qualidade do conteúdo. Com um formato de resenhas mais curtas do que as dos reviews tradicionais, os Moods do mês trazem, além das das avaliações e das notas, as faixas que nossos redatores mais gostaram.

Além dos discos de Sufjan Stevens, Pitty, Drake, Troye Sivan, Ana Frango Elétrico e Ed Motta aqui listados, artistas como Bad Bunny, Paramore, boygenius, (G)-IDLE, Omar Apollo, NCT 127, Summer Walker, Poppy, Samara Joy e Sigrid também lançaram novos álbuns.

Sufjan Stevens: Javelin
indie folk; cantor-compositor — 6 de outubro

Ao mesmo tempo em que criava alguns dos projetos mais ambiciosos da história do folk, Sufjan Stevens manteve, nas últimas duas décadas, sua vida privada distante de qualquer holofote. Mas poucas semanas antes do lançamento de Javelin, seu décimo álbum, Stevens não só revelou estar reaprendendo a andar após ter sido diagnosticado com uma síndrome autoimune, mas também anunciou que seu novo disco seria um tributo para Evans Richardson, seu parceiro de longa data que havia falecido em abril.

Os comunicados pegaram seus admiradores de longa data desprevenidos e, por isso, é natural que muitos fãs e críticos subestimem e reduzam Javelin a uma dedicatória musical de Stevens para a “luz de sua vida”. O luto como sentimento já foi graciosamente explorado pelo estadunidense no melancólico Carrie & Lowell, de 2015 e, embora o novo disco se origine de mais uma perda, é, definitivamente, um dos projetos mais deslumbrantes de sua carreira. Da incerteza esperançosa de Will Anybody Ever Love Me? às juras românticas de Shit Talk, um dos momentos mais comoventes do álbum, Javelin sensibiliza qualquer coração com profunda delicadeza.

Mesmo na introdutória Goodbye Evergreen, uma ode serena ao seu falecido amor, Stevens contraria as possíveis pré-concepções fúnebres do ouvinte com um arranjo dramático e surpreendente, mas não menos tocante. O timbre sussurrado do cantor é, como de costume, amparado por coros e cordas, mas torna-se especialmente emotivo nas faixas instrumentadas pelo piano, como a terna My Red Little Fox e So You Are Tired, que angaria um espaço entre algumas das composições mais angustiantes da discografia de Sufjan. — João Victor Mothé

Nota: 9
Melhores faixas: My Red Little Fox, Will Anybody Ever Love Me? e Shit Talk

Pitty: ADMIRÁVEL CHIP NOVO (RE)ATIVADO
rock; grunge — 6 de outubro

Quando Admirável Chip Novo fez seu aniversário de 20 anos de lançamento, Pitty presenteou seus fãs com uma roupagem totalmente nova e bem-vinda ao icônico álbum que marcou a história da música brasileira como a estreia da cantora nas paradas musicais. Para comemorar, ela convidou diversos artistas para (re)ativar seu primeiro trabalho profissional.

O tradicional rock deu espaço a uma variedade de ritmos que encantam o Brasil de norte a sul: do rap ao pop, do forró ao MPB. Com muito experimentalismo envolvido, ouvir algumas das músicas mais icônicas da carreira da Pitty com novas vozes e musicalidades é um sopro de vida e uma surpresa muito bem-vinda. Mais do que de bom gosto, Admirável Mundo Novo (Re)Ativado também é um presente aos amantes de boa música.

Como ela mesma disse em entrevista à revista Claudia, o briefing aos artistas era “pegue a música e faça dela o que quiser”. Ela ouviu o álbum apenas quando ficou pronto, explicitando que queria a personalidade e a alma dos artistas convidados para mostrar como a música brasileira pode ser diversa. Seu objetivo não foi apenas cumprido, mas ultrapassado, e, assim, foi criada mais uma pérola em sua carreira. — Helena Sbrissia

Nota: 8.6
Melhores faixas: Máscara, Equalize e Só de Passagem

Drake: For All The Dogs
trap; pop; rap — 6 de outubro

Drake é um dos rappers mais versáteis do mundo, mas seu novo trabalho, For All the Dogs, é um projeto confuso, com pontos altos e baixos. Além de ser longo, com 21 faixas, o álbum conta com músicas tão parecidas que torna-se difícil discernir uma da outra. As colaborações são um ponto positivo, já que o rapper traz uma variedade de artistas que ajudam a oferecer alguma variedade ao disco e evitar que se torne plenamente monótono.

Mesmo assim, é impossível ignorar as falhas do For All The Dogs, repleto de músicas suaves demais e incapazes de produzir qualquer impacto; são repetitivas e não oferecem nada de novo para o artista ou sua discografia. Como destaques, Away from Home é uma balada emocionante sobre saudade, enquanto Bahamas Promises traz uma proposta mais melancólica e relaxante. First Person Shooter, com J Cole, é outro ponto alto, enquanto o rap feroz de The Pearl torna a canção uma das melhores músicas de Drake dos últimos anos.

No geral, For All the Dogs é um álbum misto. Tem alguns momentos altos notáveis, mas também tem diversos deméritos. Drake ainda é um dos maiores rappers do mundo, mas ele precisa encontrar uma maneira de se reinventar e voltar a fazer projetos que sejam consistentes. — Joel Rocha

Nota: 6
Melhores faixas: The Pearl, Away From Home e First Person Shooter

Troye Sivan: Something to Give Each Other
dance pop; r&b contemporâneo — 13 de outubro

Quando a contagiante Rush foi lançada como o primeiro single do Something to Give Each Other, algo parecia estar mudando na carreira e no direcionamento artístico de Troye Sivan. Os coros masculinos intensos e as batidas dançantes que tomam o refrão catalisam perfeitamente a euforia daquele momento em que um rompimento amoroso é finalmente superado, e finalmente substituído por uma imensa vontade de experimentar tudo o que a vida tem para oferecer — seja num clube noturno insalubre e duvidoso ou entre quatro paredes. Até mesmo o clipe da faixa acenava num sentido contrário ao pop noventista dormente produzido pelo cantor previamente, com imagens ousadas e fotografia quase claustrofóbica. Mas, no dia 16, quando o disco finalmente chegou às plataformas digitais, a expectativa de encontrar o mesmo tipo de energia oferecido em Rush foram frustradas por uma sucessão de canções pop majoritariamente desinteressantes.

Como já é tradicional na carreira do australiano, parece que todas as boas ideias de Sivan e seus colaboradores foram concentradas nas produções visuais da nova era. De longe, os videoclipes do Something to Give Each Other causam uma impressão imediata, seja ela de surpresa ou admiração. Durante a seleção de singles para um novo disco pop, é comum que faixas radiofônicas e grudentas sejam as escolhas mais óbvias para ganharem clipes e promoção nas plataformas, mas, geralmente, ainda existem algumas outras boas músicas no álbum. Não é o caso do novo projeto de Troye, que tem suas b-sides completamente ofuscadas pela força não só do primeiro single, mas também do último, One of Your Girls, que traz um synth pop envolvente à la Daft Punk.

O autotune frequentemente empregado na produção do álbum não é um problema e, presente em várias faixas, mostra-se uma escolha estilística ao menos interessante. As melodias, por outro lado, seguem o padrão do que tem sido feito pela grande maioria dos artistas pop masculinos, que compartilham uma identidade sonora repetitiva. É difícil não pensar que, com poucos ajustes, In My Room poderia pertencer ao último álbum do Luke Hemmings ou do Harry Styles. Outras canções, entretanto, são tão inofensivas que tornam-se absolutamente imemoráveis, como Silly e Honey. O resultado final é um disco promissor, mas de potencial fragilizado por escolhas de produção descartáveis. Até mesmo o sample do Big Raiders em Got Me Started tem boas intenções, mas, por falta de assertividade e direcionamento criativo, acaba soando sem graça e confuso. — João Victor Mothé

Nota: 6.4
Melhores faixas: Rush, One of Your Girls e Can’t Go Back Baby

Ana Frango Elétrico: Me chama de gato que eu sou sua
bossa nova; funk; jazz; pop alternativo — 20 de outubro

Incorporar suas referências no próprio processo criativo e ainda assim criar algo inovador e autoral é uma tarefa difícil. Há a impressão de que tudo já foi feito antes e que, não importa o quão disruptivo você acredite estar sendo, alguém provavelmente já pensou nisso no passado. Para a carioca de vinte e seis anos Ana Fainguelernt, ou Ana Frango Elétrico, a metodologia é outra. Ciente de que boas ideias e influências não lhe faltam, Ana recorre, em seu novo disco, ao passado — mas não para replicá-lo, e sim para homenagear, com respeito e requinte, a riquíssima diversidade sonora brasileira.

Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua é um sopro de jovialidade em gêneros ainda pouco abraçados por audiências mais jovens, e ainda menos explorados por artistas nacionais da mesma faixa etária de Ana no mainstream. Com doses pulsantes de funk e jazz, é difícil não se deslumbrar com os arranjos estonteantes e as batidas carismáticas do álbum, cadenciado pelo timbre doce da cantora carioca. Embora parte de sua discografia seja cantada em inglês, a carioca não se desfaz de sua brasilidade para agradar uma possível audiência internacional, mas a veste de maneira a imprimir suas raízes e influências em tudo o que toca, quer esteja cantando bossa nova, samba ou funk, um gênero melhor disseminado na década de 70 nos Estados Unidos.

A irreverência característica de Ana e os títulos e letras por vezes cômicos remetem a mesma rebeldia do CSS, quase como se ela se recusasse a se levar a sério demais apesar da notória aclamação crítica. A dualidade entre Electric Fish e Dela, as faixas que abrem o disco, exemplifica perfeitamente a dinâmica do álbum, que varia entre canções coloridas e divertidas, como Boy of Stranger Things, e melodias intensamente apaixonantes, como Insista Em Mim. — João Victor Mothé

Nota: 8.6
Melhores faixas: Insista Em Mim, Electric Fish e Dr. Sabe Tudo

Ed Motta: Behind the Tea Chronicles
jazz; soul — 20 de outubro

Dono de uma das vozes mais poderosas do Brasil, um repertório cultural absurdo e uma capacidade de tocar (brilhantemente) todos os instrumentos, Ed Motta é, indiscutivelmente, um gênio musical. Em seu país de origem, porém, ele tem virado notícia mais por conta de suas opiniões polêmicas (e, por vezes, bastante cômicas) dadas em lives no Instagram do que por sua música.

A pouca valorização do talento de Ed em solo nacional, porém, não se deve a uma suposta decadência do artista, e sim a uma decisão do próprio cantor: ele declarou, por diversas vezes, que desistiu de ser uma figura do mainstream brasileiro e, por isso, há anos, vem optando por lançar álbuns cada vez menos comerciais. Desde 2016, todos os trabalhos autorais lançados por Ed foram álbuns jazzísticos, cantados inteiramente em inglês e voltados ao público internacional. Seu mais recente registro de inéditas, Behind The Tea Chronicles, segue essa exata linha, que possui, como maior mérito, a presença de diversos grandes momentos de virtuosismo vocal e instrumental. Ao longo de suas 11 faixas (todas compostas, produzidas e arranjadas apenas pelo próprio Ed), o novo trabalho incorpora elementos de Jazz, Soul, Funk e até Folk (gênero da faixa Buddy Longway), sem nunca soar pop, possuir letras em português ou abrir mão do requinte. Isso, porém, demonstra bastante da já conhecida soberba que Ed possui em relação ao que é popular, e também prova, mais uma vez, seu desinteresse em soar como um artista brasileiro. A única música que possui uma certa brasilidade é o samba-jazz Deluxe Refuge, mas, ainda assim, é uma pegada brasileira feita sob medida, com o objetivo de encantar os “gringos”.

Não tem como dizer que o álbum não é autêntico: ele reproduz, com fidelidade, o exato tipo de som que Ed quer fazer, e a ausência de qualquer hit radiofônico (como Colombina e Fora da Lei) é uma consequência dessa linha que ele vem seguindo, por opção própria. Porém, assim como nos dois últimos trabalhos do cantor, em Behind The Tea Chronicles fica claro que Ed deixou de lado toda a sua brasilidade, na hora de fazer músicas. Para ele, agradar ao público internacional já é o suficiente. — Lucas Couto

Nota: 6.7
Melhores faixas: Slumberland, Gaslighting Nancy e A Shot in the Park
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