Ana Frango Elétrico, NOIZE e o rejuvenscimento da música nacional | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Ana Frango Elétrico, NOIZE e o rejuvenscimento da música nacional

No fim de janeiro, Ana Frango Elétrico lotou o Circo Voador com centenas de seus entusiastas. Num par de shows que cobriam grande parte de seu catálogo, incluindo performances inéditas de seu último álbum, a carioca incendiou uma das locações mais icônicas de sua cidade natal com seu repertório eclético que, poucos meses após o lançamento do Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua, já estava na ponta da língua de todos os presentes. O fenômeno não é exatamente inesperado: aos vinte e seis anos e em atividade desde 2018, Ana Fainguelernt tem impressionado audiências dentro e fora do país com sua originalidade camaleônica e disposição verdadeiramente elétrica para explorar e mesclar sons familiares de maneira inventiva.

Parte do apelo de Ana como artista reside em sua inaptidão à conformidade. Como a provável voz mais autêntica e criativa da nova geração da música brasileira, sua arte atravessa e expande compreensões limitantes de gênero — não só no sentido musical. Quase tanto quanto rejeita esquemas binários de identificação, ela se recusa a atribuir rótulos à sua música, entendendo-a da mesma maneira que entende a si própria: como um “trabalho em progresso”. O termo foi usado por Ana em uma entrevista de 2021, poucos meses depois do lançamento do single Homem Mulher Bicho, e sugere uma auto consciência característica de alguém que reconhece que sua tendência ao experimentalismo e inovação ainda devem lhe levar a desbravar mares inóspitos.

Apesar disso, viajar pelo catálogo de Ana é, também, comprovar a veracidade de sua afirmação sobre ser um “trabalho em progresso”. Seu primeiro álbum, Mormaço Queima, de 2019, é um compilado de letras que, ao menos em sua configuração, remontam uma estrutura típica da poesia, sem se preocupar em, necessariamente, fazer sentido. Os arranjos, entretanto, são ousados, crus e estilísticos, à exemplo das cordas e da intensa percussão da faixa Trago que eclodem para criar um refrão frenético, quase Punk, cheio de personalidade. A nostalgia elegante de seu disco subsequente, Little Electric Chicken Heart, com firmes raízes na bossa nova e influências cinquentistas, lhe rendeu uma indicação ao Grammy latino e imediata notoriedade na crítica internacional.

Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua, o último LP lançado por Ana, é uma fusão de jazz, funk setentista, bossa nova, samba e todos os demais elementos que tornam seus trabalhos anteriores tão memoráveis. Sob o comando da carioca, a produção é pulsante, colorida e, em alguns momentos, tão doce quanto seu soprano. O arranjo orquestral da romântica Camelo Azul dá a estrutura para confissões serenas que poderiam ser entoados pelos protagonistas apaixonados de um conto de fadas antigo, enquanto os sensuais saxofones e trompetes de Insista Em Mim dão vida a um clássico instantâneo da música nacional recente — e não da chamada “nova MPB”, como Ana gosta de frisar. Ela faz questão de reforçar que a música popular brasileira de hoje não é tocada no violão, e é, em sua perspectiva, o funk ou o axé; “coisas que têm nomes e são belas”, comentou para a Sounds and Colours.

O êxito de Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua se revela em sua capacidade de cativar qualquer ouvinte. Dos conservadores céticos (e chatos) que alegam “a falência da música brasileira” em decorrência do sucesso de artistas do funk e do sertanejo no mainstream aos jovens há muito distantes dos gêneros musicais que mais influenciam a arte de Ana, é difícil não se impressionar pela assertividade na produção, feita inteiramente pela carioca, e pelo amadurecimento estético e temático. O álbum, bem como a própria Ana, ressonam com particular energia aos autodenominados “nerds musicais”: Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua foi eleito o 31º melhor álbum de 2023 da popular plataforma global Rate Your Music, o site em que usuários do mundo todo avaliam centenas de milhares de discos. Bem como Little Electric Chicken Heart, o projeto também chamou a atenção do influente crítico estadunidense Anthony Fantano, do The Needle Drop, que o nomeou um dos cinquenta melhores do ano passado.

Intencional ou não, o trabalho de resgate feito por Ana rejuvenesce e reintroduz a bossa nova e o samba aos que não viveram o auge criativo e mainstream dos grandes nomes do tropicalismo. Suas influências estão em Gil, Jorge Ben, Rita Lee e Caetano tanto quanto em Michael Jackson, Curtis Mayfield e a harpista estadunidense Dorothy Ashby, além de gêneros como o chamber pop e o jazz. Oportunamente, a atividade de Ana como artista se dá num momento paralelo aos resgates nostálgicos promovidos por sua própria geração que desde a pandemia, tornou-se a principal responsável por aquecer o mercado de discos de vinil.

No Brasil, iniciativas como a da NOIZE se destacam pelo esforço sensível em atender os admiradores de boa música que, assim como Ana Frango Elétrico, têm notável apreço não só pelos sons do passado, mas por tudo o que torna o ato de colecionar discos tão mágico. Desde 2014, o chamado NOIZE Record Club é o primeiro clube de assinaturas de LPs de vinil da América Latina e, por meio de uma curadoria excepcional, oferece aos membros a possibilidade de conhecer e colecionar o que há de mais autêntico e empolgante no cenário nacional. Após edições de sucesso com álbuns de nomes como Elza Soares, Letrux, Marina Sena, Belchior e Azymuth, o mais recente lançamento em vinil da NOIZE é o do Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua

A parceria não é uma mera coincidência: a autenticidade de Ana Frango Elétrico e o compromisso da NOIZE em apresentar regularmente os grandes talentos da música nacional aos membros do Record Club tornam a colaboração mais do que ideal. Com previsão de envio para maio, os vinis do Me Chama De Gato Que Eu Sou Sua ainda vêm acompanhados da revista tradicional da NOIZE. O exemplar conta com uma entrevista exclusiva com a própria Ana, além de um ensaio de fotos inédito e maiores detalhes sobre o álbum. 

Saiba mais informações sobre o Record Club clicando aqui.

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joaomothe@moodgate.com.br

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