O Twenty One Pilots é um fenômeno. Formado por Tyler Joseph e Josh Dun, o duo de Ohio virou sensação na música alternativa global por meio da mistureba de influências pop, rock e rap. De forma única, no entanto, a dupla, que tinha tudo para se manter refém dos contratos milionários pautados em fórmulas genéricas, resolveu nadar na contramão do mar de sorte da indústria fonográfica.
Muito desse sucesso desenfreado que não dá o braço a torcer vem da conexão visceral da banda com seus fãs. A abordagem na relação fã x ídolo, que em sua maioria é sempre muito distante, parece ir além da música; essa troca emocional, que explora temas de luta interna, saúde mental e a busca por pertencimento, ressoa especialmente em uma geração de jovens que se sentem deslocados.
A construção de narrativas baseadas em experiências pessoais, mas contadas por meio de figuras de linguagem, abre espaço para a livre interpretação, que naturalmente instiga quem busca um pouco mais além de instrumentais agradáveis ou singles grudentos radiofônicos. A construção dessa conexão entre artista e ouvinte é sustentada, então, por uma verdadeira troca emocional que visa abraçar aqueles que muitas vezes não se encaixam. Esse exemplo é descrito e contado em “Clancy”, o mais recente disco da banda, que finaliza um storytelling iniciado há mais de uma década.
A jornada de superação
Se Blurryface (2015), talvez o disco mais famoso da banda, introduziu o conceito de um alter-ego que personifica as inseguranças de Tyler, em Vessel (2013), Clancy já existia como a representação de uma pessoa que luta contra as adversidades de uma vida difícil, que busca valor e redenção, mas que também atua como uma espécie de mentor na caminhada de quem narra a história. Essa ideia ganha ainda mais força em Trench (2018), que mostra um lado mais sombrio e melancólico do personagem principal – interpretado por Tyler.
Com esse background consolidado, o eu-lírico acaba tornando-se um símbolo para os que se enxergam no que é marginalizado: tudo aquilo que não se encaixa nos moldes pré-estabelecidos da sociedade e que possui ligação com angústias internas como ansiedade, depressão e solidão.
Com letras metafóricas e instigantes, a banda explora a ideia do todo de uma perspectiva onde o protagonista, à procura do próprio valor, afastado de uma realidade idealizada, ainda encontra espaço para manter viva a esperança de dias melhores. Clancy pode ser considerado, portanto, uma metáfora para as lutas internas e coletivas que a sociedade enfrenta ao longo dos tempos, tratando da saúde mental e da importância de dar voz a quem silenciosamente clama por ajuda – e não há conexão mais sincera do que a que se cria com quem parece te representar.
O duo como voz da geração
Essa conexão geracional também fica visível na maneira como a banda cria suas apresentações, seja nos videoclipes ou nas apresentações ao vivo.
Após conquistar o mundo com turnês sold out e duas vindas recentes para festivais, o Twenty One Pilots se prepara para sua primeira turnê solo no Brasil, que começa na próxima semana, com shows em Curitiba (22), Rio de Janeiro (24) e São Paulo, (26).
Além do som, a turnê promete promover encontro entre aqueles que compartilham da mesma vivência e das mesmas lutas, refletidas nas composições da banda. Arte é expressão e, felizmente, o twenty one pilots parece entender o seu próprio tamanho na vida de quem os acompanha.
Para os fãs brasileiros, essa é a oportunidade de vivenciar a energia ao vivo de quem tem um brilho diferente. A expectativa para o retorno é enorme, especialmente porque o público sulamericano vê pela primeira vez um show solo dos estadunidenses.