Álbuns de 2023 que merecem a sua atenção
Em um ano marcado pelo retorno de artistas populares, hits virais de fim de relacionamento e shows e festivais caóticos, alguns lançamentos notáveis passaram sob o radar — até mesmo para a Moodgate. Mesmo com mais de cinquenta reviews de álbuns inéditos publicados no site ao longo do ano, a impressão é de que falar sobre música nunca é o suficiente. Acreditamos que a popularidade instantânea jamais será um sinônimo de boa música e, por isso, a lista de discos que passaram despercebidos em 2023 tem um único objetivo: prestigiar discos notáveis que confortaram, animaram ou impressionaram nossos redatores ao longo do ano, embora não tenham sido formalmente avaliados no site até agora.
Como critério principal, a lista compila exclusivamente projetos lançados entre 1 de janeiro e 15 de dezembro que ainda não tenham sido resenhados pela Moodgate. Naturalmente, excluem-se também os discos que tenham sido incluídos nos Moods mensais. O formato adotado é curto e objetivo, com a atribuição de uma nota e a seleção das faixas que acreditamos serem merecedoras da sua atenção.
Kelela: Raven
r&b alternativo; ambiente — 10 de fevereiro
O ressurgimento de Kelela em seu novo álbum é tão literal quanto metafórico. O disco é repleto de sons que rastejam soturnamente para criar momentos de tensão tão carregados que, eventualmente, se rompem em batidas milimetricamente calculadas para preencher qualquer ambiente. Enquanto grandes lançamentos recentes inspiram-se na efervescência da disco music, Raven concebe uma proposta mais sutil, elegante e diversa, mas não menos convincente. Ao longo de sua uma hora de duração, o álbum elabora acenos a influências variadas sem suprimir a originalidade de Kelela. A cadência entre as faixas é impecável, fluida e, na maior parte do tempo, imperceptível, tecendo uma experiência que dificilmente seria reproduzida, nessa mesma naturalidade, por outro artista.
A sofisticada abertura com Washed Away é o prelúdio de um mergulho no clube noturno secreto mais exclusivo do ano, e Kelela sabe exatamente como manter seus convidados engajados. Por meio de contrastes sonoros frequentes, a artista expressa seu fortalecimento emocional e sua sensualidade no mesmo tom luxurioso em que presta uma homenagem, na seção intermediária do álbum, ao próprio renascimento. O ritmo é sempre expansivo e contagiante, mas nunca descomedido. Para o ouvinte casual, Raven definitivamente não se apresenta como a experiência dançante mais objetiva para uma noite de sábado, mas sim um disco que, sem esforço, pode complementar qualquer festa — quer ela seja celebrada por uma única pessoa em seu quarto ou sob as luzes pulsantes de uma balada lotada. — João Victor Mothé
Nota: 8.9
Melhores faixas: Holier, Raven, Bruises e On the Run
Pierce the Veil: The Jaws of Life
rock alternativo — 10 de fevereiro
Mesmo que faixas seletas como So Far So Fake permaneçam fiéis ao gênero, a maioria das músicas aponta em outras direções: Resilience é uma reminiscência do Placebo devido à similaridade vocal e ao som mais suave, enquanto Shared Trauma até evoca o Twenty One Pilots graças ao seu caráter electro-pop. O disco não é puramente objetivo; algumas canções gostam de conquistar outros terrenos, que podem ser empolgantes ou apenas insossos.
Num outro registro, Pass The Nirvana traz modernidade e mudanças de ritmo bem sentidas, ao mesmo tempo em que a faixa título é uma pepita com energia extraída do desespero que varre tudo em seu caminho. Enquanto o baixo e a guitarra elétrica se destacam pelo uníssono harmonioso, os vocais de Vic Fuentes, em particular, garantem a autenticidade das canções e a verdadeira força de Pierce The Veil para correr riscos. — Beatriz Robaina
Nota: 7
Melhores faixas: Pass the Nirvana, Resilience e Bruises
Caroline Polachek: Desire, I Want to Turn Into You
pop alternativo; indie pop — 14 de fevereiro de 2023
O paraíso apresentado por Caroline em seu último projeto deslumbra desde a primeira canção, marcada por coros, harmonias e uma percussão ensolarada. Bem como no criativo Pang, de 2019, a cantora escolhe apresentar suas reflexões e narrativas por vezes pessoais em roupagens ora empolgantes, ora etéreas, e não por isso abdica do entretenimento característico das letras sem sentido tão comuns ao pop. Bunny is a Rider, o primeiro single do disco e eleita pela Pitchfork como a melhor música de 2021, desponta como uma das faixas mais viciantes do Desire, mesmo que, em suas próprias palavras, Caroline esteja falando sobre uma parte descolada de sua personalidade que está sempre pronta para qualquer proposta divertida.
No mesmo universo colorido de canções como a febril Sunset e a excitante I Believe, existe a atmosfera etérea de Hopedrunk Everasking que, ao lado da estonteante Butterfly Net, marca os momentos mais delicados do disco. Numa expressão da assertividade brilhante de Caroline, entretanto, as canções mais lentas e vulneráveis do Desire, I Want to Turn Into You não tornam-se menos interessantes mesmo quando sucedem as canções fabricadas com a explícita intenção de intoxicar o ouvinte com suas melodias repetitivas, como Fly to You, impressionante parceria com Grimes e Dido. — João Victor Mothé
Nota: 8.9
Melhores faixas: Blood and Butter, Pretty in Possible e Fly to You
Skrillex: Quest for Fire
eletrônica — 17 de fevereiro
Porter Robinson, Fred Again…, Missy Elliott, Noisia, Aluna, Four Tet e uma série de outros parceiros de diferentes épocas e origens desfilam como medalhas na jaqueta Skrillex. À vista de todos, ele fugiu para conquistar o techno, house, hip-hop e transformou a energia não filtrada de Scary Monsters And Nice Sprites em uma aventura próxima do garage e breakbeat.
Capaz de absorver mais em seu vórtice artístico ao dar vida a faixas tão loucas quanto XENA, que ele compartilha com a cantora Nai Barghouti, ou tornar RATATA uma arte de samplear novidades, em Supersonic (my existence), os vocais de Josh Pan são moldados pela arquitetura de baixo erguida por Brady e Noisia. Durante parceria com Fred Again… e a lenda do leste de Londres, Mc Flowdan, Skrillex fez a verdadeira mágica acontecer através do hit Rumble tornando o projeto recheado o suficiente para ficar na história. — Beatriz Robaina
Nota: 8.2
Melhores faixas: Holier, Raven, Bruises e On the Run
Ondastral: Pare de Noiar
rock alternativo — 22 de fevereiro
O maior exemplo disso é a balada acústica Avenida- Pt.2 – que é, certamente, a melhor música que a Ondastral já lançou, e mostra um grande amadurecimento do vocalista Gabs Matias como compositor. Entretanto, a banda também consegue acertar a mão em vários momentos mais animados, como nas faixas Oficina do Diabo, Tapa na Cara, Sinfonia de Deus e Nós Somos Tudo Lixo – que contaram com o exímio baterista JC Matias participando ativamente do processo de composição.
Este é, aliás, o primeiro trabalho da Ondastral a ter canções compostas não apenas por Gabs, mas também por JC e pelo baixista Vitor Sousa. A ideia funcionou! Não é à toa que, desde o lançamento deste álbum, o grupo vem colecionando vitórias cada vez mais constantes, entre elas, o feito de ser a primeira banda de Lages/SC a ser chamada para o icônico festival Planeta Atlântida, do Rio Grande do Sul. Com certeza, a Ondastral é um nome para ficarmos de olho neste atual cenário musical brasileiro. — Lucas Couto
Nota: 7.8
Melhores faixas: Avenida—pt.2, Oficina do Diabo e Tapa na Cara
Wednesday: Rat Saw God
indie rock — 7 de abril
Os espaços brilhantes o Wednesday encontra no novo projeto são como contrastes líricos para lançar luz sobre tudo o que está amontoado num canto da sociedade. A épica faixa noise Bull Believer demonstra verdadeira catarse visceral da vocalista, que começa a gritar, guinchar e berrar como se lutasse contra o peso do mundo.
Combinando bateria pesada com feedback do que parece ser qualquer outro instrumento superior as partes intermediárias convencionais, o grupo oferece um compilado de canções que variam do shoegaze, grunge e country sinuoso o suficiente para capturar qualquer atenção. A dramática Fórmula 1, uma espécie de balada em que podemos ouvir a voz de MJ Lenderman, e músicas como Turkey Vultures ou TV in the Gas Pump também colocam o Rat Saw God no panteão do indie rock. Muitas vezes empregando estruturas incomuns e explorando a interseção entre o cativante e o descontente, a apreciação de Wednesday por clássicos como o Pavement ou o The Smashing Pumpkins ganha um foco ainda mais nítido no disco. — Beatriz Roabina
Nota: 8.6
Melhores faixas: Bull Believer, Formula 1 e TV in the Gas Pump
Blondshell: Blondshell
indie rock — 7 de abril
Em Salad, Blondshell toma sonhos frequentes como plano de fundo para revelar intenções homicidas para com o namorado abusivo de uma amiga, por mais especulativas e fantasiosas que sejam. Críveis ou não, as ameaças inflamadas de Sabrina representam apenas um dos extremos da corda bamba emocional e perigosa do disco. De um lado, Teitelbaum reconhece suas tendências autodestrutivas e flerta com o regresso a relações tóxicas e despropositadas, como na divertida Sepsis, mas, por outro, estende alguma empatia aos próprios erros e os de terceiros.
Embora as histórias contadas por Sabrina em seu primeiro álbum confirmem que a artista não se encontra isenta das crises identitárias tão típicas de sua faixa etária, confusões dessa natureza são, felizmente, evitadas na produção do disco. Blondshell parece saber exatamente como quer que sua música soe, apesar de ainda estar tentando descobrir, com a mesma precisão, como lidar com seus vícios, dilemas e romances. — João Victor Mothé
Nota: 8
Melhores faixas: Olympus, Salad e Veronica Mars
Waterparks: INTELLECTUAL PROPERTY
pop punk; rock alternativo; rock eletrônico — 14 abril
Fica claro durante toda a obra que Awsten Knight (vocal), Geoff Wigington (guitarra) e Otto Woods (bateria) se divertem quando fazem música, utilizando elementos experimentais para dar um tom mais dançante para o rock que eles propõem. O álbum é bem amarrado, cheio de autorreferências e (curiosidade) traz o primeiro feat de todos os álbuns da banda na música FUCK ABOUT IT, com o cantor blackbear. Com tantas qualidades, como os assuntos profundos e a sonoridade cativante, fica fácil entender essa recomendação. — Helena Sbrissia
Nota: 8
Melhores faixas: SELF-SABOTAGE e RITUAL
Kara Jackson: Why Does the Earth Give Us People to Love?
folk; r&b alternativo — 14 de abril
Dois anos depois, as mesmas reflexões continuam a assombrá-la em seu comovente álbum de estreia, onde Jackson reconhece a vida e o amor como dois fenômenos inescapáveis, tão fatídicos quanto a morte e a tragédia. Preenchido por arranjos orquestrais e instantes de absoluta sutileza instrumental nos quais a poesia de Kara parece ainda mais íntima, Why Does the Earth Give Us People to Love? é cheio de momentos sublimes. Em no fun/party, a artista medita sobre o fim de um relacionamento, além do real significado de amar outra pessoa. Ela acredita que todas as pessoas que já namorou tomaram seu afeto como algo garantido, mas que, talvez, essa seja a amarga natureza das relações. Talvez o amor nem seja tão divertido assim, mas Kara ainda o cobiça e lhe concede espaço enquanto aprende a conciliar sua racionalidade com o desejo de conhecer, na essência, esse sentimento.
Entre guinadas de produção teatrais e confissões das mais vulneráveis, Jackson reconstrói sua autoestima. Na magistral brain, empenha-se para reforçar não para seus ouvintes, mas para si própria, que o afeto não é uma moeda de troca e que, se seus infinitos temores continuarem norteando suas decisões, estará fadada a correr do amor que realmente merece. Inatamente sensível, Kara permite que suas revelações líricas sejam o ponto central de grande parte do álbum, não como alguém que se fragiliza, mas que se emancipa de seus traumas, desafetos e lutos, recusando-se a ser reduzida pela lástima. — João Victor Mothé
Nota: 8.4
Melhores faixas: no fun/party, therapy, free e brain
Jards Macalé: Coração Bifurcado
samba; mpb — 28 de abril
Ao lado de Maria Bethânia, Ná Ozzetti, Guilherme Held, Thomas Harres e inúmeros outros nomes de peso, Macalé, após se render às movimentações políticas em Besta Fera (2019), voltou-se ao amor e suas ramificações em seu mais recente álbum de estúdio, o que é sintetizado pela primeira faixa, Amor In Natura, que anuncia que “o amor anda nas retas, o amor anda nas curvas; às vezes águas claras, outras vezes águas turvas”. Guiado por guitarras, baixos, baterias, cavaquinhos, pianos, doses cavalares de samba-canção e acenos aos moldes vintage de fazer música, Coração Bifurcado encontrou caminhos para chegar ao espaço reservado para os discos mais importantes de 2023. — Victor Rufino
Nota: 8.7
Melhores faixas: A Arte de Não Morrer, Mistério do Nosso Amor e A Foto do Amor
Aminé & KAYTRANADA: Kaytraminé
hip-hop; rap — 19 de maio
As batidas de Kaytra seguem uma evolução constante a cada lançamento, contendo cada vez mais variações e sutilezas integrando um instrumental criativo, original e rico em detalhes que, felizmente, acaba ganhando destaque em cima de algumas linhas de rap genéricas e exageradas de Aminé. Apesar de não convencional, esta também é uma forma de trazer equilíbrio ao álbum. Por outro lado, todas as parcerias potencializam a produção de Kaytra com refrões leves e versos cativantes, como ocorre na faixa 4EVA com Pharrell, e toda a descontração e fluidez de Snoop Dogg em Eye. Valendo destacar também as velozes, suaves e confiantes rimas de Freddie Gibbs na segunda faixa do disco letstalkabouit ornando com as linhas graves de Kaytra.
Kaytraminé explora sentimentos de leveza de uma viagem de verão, merecendo ser apreciado da forma como a sua própria capa sugere: curtindo um dia de sol na beira da piscina com um bom drink na mão. — Lucas Pires
Nota: 7.8
Melhores faixas: 4EVA, Westside e letstalkaboutit
ANOHNI: My Back Was A Bridge For You To Cross
soul — 6 de julho
Não por acaso, uma foto de Marsha estampa a capa do último disco da britânica, My Back Was A Bridge For You To Cross. Embora tenha sido cruelmente assassinada há quase trinta anos, Johnson inspira o projeto muito além da imagem: assim como os arranjos de tirar o fôlego, as composições não temem explorar a vulnerabilidade de ANOHNI e, à bem da verdade, da própria existência. Por mais frágil que a performance da esplêndida There Wasn’t Enough seja, a artista não omite o caráter político da canção, que veicula alguns dos ideais mais proeminentes de sua militância. A relaxada It Must Change aponta na mesma direção e, como faixa introdutória, sintetiza o mantra principal do disco: lamentavelmente, na mesma proporção em que destruímos o planeta, estamos todos presos aqui.
Para além dos méritos líricos e das performances magníficas, é a versatilidade concisa da produção do My Back Was A Bridge For You To Cross que mais impressiona. Os baixos, os violões e a percussão oferecem uma carga emocional por conta própria, como na excepcional Rest, que mescla rock e soul para proporcionar a música mais impactante do álbum. Num momento político tão ameaçador para a comunidade LGBT, com mais de 500 projetos de lei que vitimam o grupo correndo nos Estados Unidos, ANOHNI mostra-se não só parte da luta, mas também usa de seus talentos inegáveis e de sua arte sensível e estonteante como plataforma. — Victor Rufino
Nota: 8.6
Melhores faixas: Rest, There Wasn’t Enough e Can’t
Dominik Fike: Sunburn
pop alternativo; r&b — 7 de julho
O disco tem a participação de Remi Wolf na faixa Bodies, sendo a segunda parceria entre os artistas, considerando o lançamento de Photo ID, um remix de uma canção de Wolf. A banda Weezer (favorita de Fike) também marcou presença com o single Think Fast, que possui uma reviravolta sonora marcante. Além disso, Mona Lisa, música que Dominic desenvolveu para a trilha sonora de Homem-Aranha: Através do Aranhaverso, completou o álbum depois de sua estreia.
Sunburn é uma jornada sonora cativante que, mesmo predominando o gênero R&B, combina habilmente elementos do pop e rock alternativo sempre que pode, o que, notoriamente, mostra a versatilidade de Dominic. O artista, assim, molda sua arte em diferentes gêneros, junto às particularidades de sua personalidade. Diante a isso, ele também ressalta que a sua energia de desordem e vício se unem com a catarse para ressaltar a autenticidade de sua figura. — Giovanna Pavan
Nota: 8.2
Melhores faixas: Sunburn, Think Fast e Mona Lisa
Newjeans: Get Up
k-pop — 21 de julho
Com uma sucessão de faixas com imenso potencial viral, o disco segue a sonoridade Garage adocicada já patenteada pelo quinteto no K-Pop. Ao fim de cada música, é difícil não se pegar repetindo mentalmente os refrões deliberadamente viciantes entoados pelo Newjeans, que dispensa alternativas mais versáteis para manter o som assinatura do grupo, aqui somado a frases repetitivas e vocais frequentemente assoprados. Super Shy, o single principal, exibe a essência do quinteto da forma mais intoxicante possível, com um verso mais pegajoso que o anterior.
Embora todas as canções do projeto cativem rapidamente por razões similares, Cool With You e a etérea e breve Get Up prendem a atenção pela sutileza em comparação a faixas mais aceleradas presentes na discografia da banda, como os hits OMG e Hype Boy. Tanto a faixa título do EP quanto Gods, último single lançado pelo quinteto para o mundial de League of Legends, mantêm as expectativas elevadas para o futuro do grupo de sul-coreano mais interessante de se acompanhar da atualidade. — Marcella Fronterota
Nota: 7.7
Melhores faixas: Cool With You, Super Shy e Get Up
Mammoth WVH: Mammoth II
hard rock; rock alternativo — 4 agosto
Apesar de ter sido baixista do Van Halen de 2006 a 2020 (ano da morte de Eddie e, consequentemente, do fim do grupo) e de já ter provado que sabe tocar todos os clássicos da banda na guitarra de maneira idêntica à de seu pai, Wolfgang reafirma, em Mammoth II, o desejo de construir sua própria reputação: ao invés de tentar reproduzir a sonoridade do Van Halen, ele optou, novamente, por fazer um rock mais moderno – com influências de nomes como Foo Fighters, Tool e Alter Bridge. Essa proposta sonora, além de ser extremamente acertada e estratégica para o objetivo de Wolfgang, funciona muito bem na prática: neste segundo álbum, o músico de 32 anos consegue, mais uma vez, o feito de demonstrar um talento tão grande quanto o de seu pai (o que é algo dificílimo, quando o pai em questão foi um dos melhores músicos da história) e, ao mesmo tempo, trazer consigo uma identidade própria.
É vero que Mammoth II não traz nenhuma mudança radical em relação ao álbum que o antecedeu. Porém, às vezes é bom não mexer em time que está ganhando: este é, certamente, um dos melhores lançamentos de rock de 2023, e cumpre o propósito de ajudar a projetar Wolfgang Van Halen como um músico que vai além de seu sobrenome. — Lucas Couto
Nota: 8.2
Melhores faixas: Another Celebration at the End of the World, I’m Alright e Take a Bow
Victoria Monét: JAGUAR II
r&b alternativo; pop — 25 de agosto
Neste entremeio, Monét estreou solo em 2014 com o EP Nightmares & Lullabies, sequenciado por mais alguns projetos menores que servem como um repertório de base sólida para a cantora. Em 2020, Victoria surge com Jaguar, um projeto inicialmente dividido em três EPs com faixas de uma qualidade incrivelmente superior aos seus últimos trabalhos – e aqui, adicionamos as devidas congratulações pela evolução da musicalidade da artista que, cabe-se dizer, é bonita de se ver. Não à toa, o que deveria ser a parte II do projeto, Jaguar II (2023) foi retrabalhado para ser lançado como um álbum, consagrando-se como o debut da cantora na indústria.
Num período do revival do R&B feminino, em 2023, cenário em que o gênero está evidenciado e muito bem representado por nomes como Janelle Monáe, SZA, Amaraae, Kiana Ledé e Kelela, Victoria Monét não surge como um nome a mais, mas sim como um ás; um combo de uma artista que possui referências de peso e sabe como utilizá-las. Ao mesmo tempo em que faz boas composições com temas atuais e ao mesmo tempo profundos, Victoria tem o know how de como aplicar tudo isso em melodias catárticas e funcionais. Some essa fórmula a colaborações que apenas comprovam sua excelência como artista – Earth, Wind & Fire – e você terá um resultado tão substancial quanto o Jaguar II. — Marcella Fronterota
Nota: 8.7
Melhores faixas: Alright, On My Mama e Hollywood
Del Water Gap: I Miss You Already + I Haven’t Left Yet
pop alternativo — 29 de setembro
O artista fala da sensação de estar sentindo o seu interesse amoroso se distanciar, lentamente, de um relacionamento que viveu, bem como a dificuldade em aceitar que as pessoas ao seu redor podem vir a se tornar estranhos. Mas, de um jeito poético e visceral, o disco, com 12 faixas, se mostra um retrato legítimo e brutalmente honesto de histórias de amor do eu lírico, que ao mesmo tempo luta com os episódios depressivos e crises existenciais.
As canções enfatizam ainda mais o sentimento intenso de Gap. O início do disco é explosivo, com batidas rítmicas envolventes e contagiantes, mesmo que com letras delicadas. Isso pode ser visto, principalmente, em All We Ever Do Is Talk, Quiet of Steam e NFU, faixas marcantes, que te tiram, por um momento, da realidade. No entanto, esse mar de águas se divide com músicas mais intimistas e delicadas. Glitter & Honey, Want It All e Gone in Seconds representam isso muito bem. São aquelas típicas músicas que tocam num fim de festa, baile, ou balada, levando qualquer um a refletir sobre a vida e qual o sentido dela.— Giovanna Pavan
Nota: 7.9
Melhores faixas: All We Ever Do Is Talk, Losing You e NFU
Beartooth: The Surface
metal alternativo — 13 de outubro
Como referência no cenário do metalcore, The Surface renova o Beartooth ao construir um som sonoridade efervescente e único, com guitarras oitavadas e pequenos solos acompanhando as linhas vocais de Shomo que vão da visceralidade ao clean angelical. A composição das faixas tem sempre algo em comum, o que solidifica a nova identidade musical do grupo sem abandonar a essência dos primórdios, como em Sick e Disgustin. Ao longo de seus álbuns, o hardcore, pop e o metalcore sempre foram misturando se complementando harmonicamente, mas dessa vez a adição de elementos mais eletrônicos foram implementados a fim de proporcionar uma atmosfera mais pop que pretende, em consequência, atingir um público maior.
The Surface é o resultado de anos de amadurecimento do Beartooth em uma soma de elementos do pop, metalcore, post-hc e hardcore, criando um ambiente positivo e radiante que eleva a popularidade do gênero. As letras são o ponto do disco onde Shomo é mais pessoal e expõe todos os seus pensamentos. Intimista e inovador para o gênero, o último projeto da banda é sólido e merece a sua atenção. — Caio Bandeira
Nota: 7.7
Melhores faixas: Riptide, Sunshine e I Love Myself
LIA LIA: Angst
pop punk — 10 de novembro
Seu último EP, Angst, sumariza um tipo específico de rebeldia próprio de jovens adultos que, assim como a artista, se veem frequentemente confrontados pela ansiedade e pela imensa vontade de jogar tudo pro alto. O título é ambivalente: no inglês, designa a palavra “angústia” mas, no idioma alemão, é traduzido como “medo”. Embora complementares, ambas as semânticas são exploradas por Wang com uma segurança e um amadurecimento notável em comparação ao seu último EP, Love & Melancholy, de 2022, não só por representar o momento em que a cantora abandona a cômica fantasia de mariposa do single I’m a Moth!! para estrelar videoclipes inspirados na estética inconfundível do diretor Wong Kar Wai. As faixas do Angst existem em uma interseção perfeita entre o pop punk e o indie pop, com alguma adoção da irreverência singular do pop japonês.
A música título é performada na espontaneidade característica de alguém que sabe que aquele refrão viciante vai grudar na sua cabeça por vários dias, enquanto momentos como I cry in my Mercedes sustentam com precisão a postura despojada arquitetada pela persona artística de Wang. ”Eu não quero muitos namorados, eu só quero superpoderes”, canta, sobre baixo e percussão crescentes que culminam em um refrão explosivo. Além da etérea I ride my bike, a narrativa obscura de 13 é outro notável destaque no EP. A canção é uma das mais vulneráveis do catálogo da cantora até agora, mas não por isso se torna menos atrativa que as demais. Diferente de LIA LIA, entretanto, Lia Wang ainda parece se surpreender a cada novo elogio, quase como quem continua oblívia ao fato de que já é uma das artistas mais autênticas do pop alternativo atual. — João Victor Mothé
Nota: 8
Melhores faixas: Angst, I cry in my Mercedes e 13
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