A artista em Britney: 13 músicas para redescobrir e entender a princesa do pop | Moodgate
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A artista em Britney: 13 músicas para redescobrir e entender a princesa do pop

Com uma das carreiras mais bem sucedidas e controversas da música pop, Britney Spears é, indiscutivelmente, uma das maiores estrelas da história da música — e se a forma como o Twitter/X anda obcecado por ela não for o suficiente para provar isso, o recorde quebrado por sua nova autobiografia deve bastar. Lançado no último dia 23, o livro The Woman In Me (A Mulher em Mim) já é a biografia de celebridade mais comercialmente bem sucedida de todos os tempos. Nas redes sociais, trechos da obra vêm viralizando numa frequência avassaladora e, a cada novo dia, revelações acerca da vida pessoal de Britney e sua carreira de vinte e cinco anos ainda surpreendem seus admiradores de longa data. Acima disso, The Woman In Me não só oferece novas perspectivas acerca dos altos e baixos da vida de Spears, mas também renova as discussões sobre a saúde mental das estrelas da música e do cinema. Desde o início de sua carreira, a cantora foi vítima de diversas formas de assédio midiático e, no ápice de sua fama, uma mera fotografia sua em um momento inoportuno poderia chegar a valer meio milhão de dólares para o paparazzi responsável.

Com uma popularidade tão esmagadora, Britney teve toda a indústria na palma de sua mão por uma década e, na corrida para replicar o mesmo tipo de sucesso, inúmeras gravadoras apostaram em jovens cantoras que pudessem imitar o estilo, a voz e as músicas de Spears. Sendo justo, a cantora era, sim, dotada de alguma plasticidade: sua originalidade e boas ideias pareciam, por vezes, suprimidas pelas demandas de sua gravadora, o que fazia parecer que existia uma fórmula a ser seguida. Mas Britney possuía algo a mais: seu carisma era estrondoso e, em cima dos palcos ou nas entrevistas, cativava multidões. Apesar do interesse invasivo em sua vida pessoal da imprensa e de todo o mundo, a estadunidense natural da Louisiana sempre deu o seu melhor. Hits como …Baby One More Time, I’m a Slave 4 U, Toxic e Womanizer ainda habitam o imaginário popular como algumas das faixas pop mais memoráveis de todos os tempos e, por isso, é natural que, para parte do público, Spears seja lida como mais uma artista fabricada qualquer. Sua marca na cultura, entretanto, é incontestável e, por muitas vezes, ela foi a grande responsável por ditar tendências estéticas e sonoras a serem seguidas nos próximos meses ou anos.

E para entender de verdade a carreira de Britney, é importante olhar além dos singles, dos sucessos e das manchetes. Por isso, a Moodgate selecionou treze das melhores e mais importantes faixas da discografia da princesa do pop, escolhidas não só sob critérios de qualidade ou preferência, mas do significado para sua trajetória como artista, mulher e mãe. É um convite não só para relembrar de alguns dos seus sucessos, mas para interpretá-los de uma nova maneira, agora devidamente contextualizados. Confere só:

13. Kill the Lights
circus, 2008

Em 2008 Britney Spears fez seu grande comeback ao mundo da música com o lançamento do álbum Circus. Após um ano conturbado, todos os olhos se voltaram para a cantora novamente para saber o que ela apresentaria após o período mais complicado de sua vida. É nesse contexto que Kill the Lights toma lugar como a quarta faixa do disco: uma clara alusão à relação entre Britney, os paparazzi e a mídia. Kill the Lights é uma música sexy e dançante — dois elementos que parecem os mais importantes da carreira da estrela pop. Com um beat dramático e instigante, a canção é o puro suco de pop perfection. O clipe é o segundo que aposta numa estética animada em sua carreira, sendo Break the Ice, do Blackout, o primeiro. O vídeo mostra de uma maneira “divertida” como a cantora era constantemente perseguida pelos flashes de câmeras em absolutamente tudo o que ela tentava fazer, por isso sua vontade de simplesmente apagar e acabar com todas elas.

Essa temática é algo que ela construiu desde o Blackout, sendo que Piece of Me é considerada a precursora direta de Kill the Kights. A crítica à falta de escrúpulos e sensacionalismo ao redor da vida pessoal de Britney virou tema recorrente em sua discografia. — Helena Sbrissia

12. What U See (Is What U Get)
ooops!… i did it again, 2000

Histórias e letras de empoderamento feminino não são raras na música pop, e, dentre essas faixas, é ainda menos raro perceber que, vez ou outra, o discurso é tão literal que se torna vazio. Pode ser desafiador encontrar uma instrumentação cabível para uma letra que aborda temáticas mais sensíveis, e é ainda mais difícil não sucumbir a tentação de usar frases de efeito prontas (pense em Boys Will Be Boys, de Dua Lipa). Artistas como Robyn, Mitski ou Marina (nos primeiros álbuns de sua carreira, ao menos) são conhecidas por mesclar batidas deliciosamente dançantes com composições melancólicas com alguma carga de seriedade e, quando elas cantam sobre namorados abusivos ou frustrações românticas, soa legítimo e pertinente para suas faixas etárias. Mas no caso de Britney, existe algo de muito potente e verossímil em, como uma garota adolescente, falar de um dos sentimentos mais presentes nas relações de sua idade: a insegurança — não dela, mas de seu parceiro.

What U See (Is What U Get) é perfeitamente apropriada para o momento em que Spears vivia em sua carreira, já que, à época, já se encontrava envolvida com Justin Timberlake, com quem teve um relacionamento particularmente tortuoso marcado por infidelidade mútua. Em sua autobiografia, Britney revela que Justin já a havia traído algumas vezes e que, embora ela tenha decidido desculpá-lo, o mesmo deslize por sua parte foi tratado pelo intérprete de Cry Me a River como a maior ofensa possível. Nesse sentido, a narrativa de What U See (Is What U Get) é não só coerente, mas crível, já que a música é introduzida por versos que sugerem uma mudança de comportamento súbita de seu parceiro, nitidamente motivada por ciúmes (“agora você diz que estou usando muita maquiagem e que meu vestido é muito apertado”). A faixa é toda sobre proclamar sua autenticidade e jogar limpo em uma relação e, ao mesmo tempo em que Spears deixa claro que gosta demais de si mesma para permitir que alguém tente mudá-la, reforça sua honestidade: “Não importa se eles estão me olhando se eu só tenho olhos pra você”; “Eu não posso ter correntes me prendendo (….), posso ser tudo o que você sonha, mas preciso ser livre”.

A canção ganha espaço nessa lista não só por ser representativa de uma experiência universalmente vivenciada em relacionamentos, mas também pela sua verossimilhança com o namoro da cantora na época. Para além disso, a produção leva a fusão de pop e r&b tão zelada por Britney para um outro nível, criando uma faixa que, ao mesmo tempo em que traz uma temática importante, é gostosa de se escutar. — Marcella Fronterota

11. Crazy (The Stop Remix)
…baby one more time, 1999

Ainda que a imensamente bem sucedida faixa título do …Baby One More Time roube a cena quando se discute o disco, é indiscutível que o frenesi adolescente retrô e colorido do clipe de (You Drive Me) Crazy seja um dos momentos mais empolgantes do início da carreira de Britney. O álbum ainda conta com destaques como as baladas Sometimes, Born to Make You Happy e From the Bottom of My Broken Heart que, muito além do single principal, mostram a artista multifacetada que Spears planejava e poderia ser nos anos seguintes. E se a versão original de Crazy já é o suficiente para embalar alguns bons passos de dança, o remix que foi enviado para as rádios e ganhou um videoclipe próprio é, sem dúvidas, ainda mais eficiente em trazer uma dose especial de nostalgia ao mesclar uma sonoridade tipicamente noventista com visuais da década de 70.

Mesmo em um disco já recheado de outros grandes hits, essa faixa em especial resiste ao teste do tempo como uma das mais enérgicas da discografia da princesa do pop. A versão remix era também a mais frequentemente performada pela cantora em suas apresentações ao vivo e, durante seu memorável show especial no Havaí, contou com uma coreografia ainda melhor elaborada, com cadeiras e equipes de dançarinos que, embora profissionais, sucumbiam ao carisma inigualável de Spears. Em cima dos palcos, Britney sempre soube, como poucos outros artistas pop, dar tudo de si e oferecer bons resultados. — Marcella Fronterota

10. Mona Lisa
the original doll (unreleased), 2004

Nos meses seguintes ao lançamento do In The Zone, Britney estava insatisfeita com a gestão de sua carreira e, para a imprensa, parecia passar por uma fase de “rebeldia”. Naquele mesmo ano, a cantora havia casado com o infame dançarino Kevin Federline e, com pequenos ou grandes atos, desafiava o controle de sua gravadora da forma que podia. Em dezembro de 2004, sem qualquer aviso, Spears apareceu no estúdio da rádio KIIS-FM com um CD em mãos que continha uma música exclusiva chamada Mona Lisa. Britney revelou que a faixa tinha sido resultado de uma gravação informal e improvisada feita com sua banda durante sua última turnê e deveria ser o primeiro single de seu disco seguinte, The Original Doll, que seria lançado no verão do ano seguinte. Em seu site pessoal, Britney publicou uma carta dizendo que planejava “tirar uma pausa”, mas que não seria um intervalo em sua carreira; seria uma pausa de “obedecer tudo o que a diziam que tinha que fazer” e que, mais do que nunca, estava no controle criativo de sua carreira.

Semanas depois, um representante da Jive Records, gravadora da cantora, foi à público dizer que, apesar de Britney estar produzindo novo material, não havia previsão para um novo álbum. Embora engavetado, o projeto se tornou uma lenda e rende, até hoje, muita especulação por parte dos fãs, uma vez que parecia ser um disco particularmente autoral e importante para Britney. Na letra, ela canta sobre como Mona Lisa, uma personagem com quem compartilha notáveis similaridades, está sendo clonada (“Ela é inesquecível, mas foi clonada”). A composição parece fazer referência a onda de artistas pop que, no início dos anos 2000, foram manufaturadas por diversas gravadoras para tentar replicar a fórmula de sucesso criada pela Jive com Britney. Mais tarde, a música foi incluída na trilha sonora do reality show caseiro feito pela artista e Federline. — João Victor Mothé

9. Hot as Ice
blackout, 2007

Como uma das favoritas dos fãs do icônico Blackout, disco produzido por Spears durante um dos momentos mais turbulentos de sua vida, Hot as Ice é repleta de frases de efeito carismáticas e memoráveis. Tudo na música é sobre auto-exaltação: Britney é duas vezes melhor do que qualquer paraíso; é uma lenda viva que você pode ver, mas não tocar; é fria como o fogo, mas quente como o gelo. Ouvir a cantora se referindo a si com uma confiança tão ardente é contagiante, especialmente se o ouvinte considera as circunstâncias nas quais a faixa — e todo o Blackout, para ser justo — foi concebida.

“Quando gravei Hot as Ice, entrei no estúdio e havia seis caras gigantes na sala comigo, sentados”, lembrou Spears em sua autobiografia, depois de dedicar alguns parágrafos ao processo criativo do Blackout, citado por ela como o álbum mais fácil e gratificante de se criar. Ainda sobre Hot as Ice, diz que a gravação da faixa foi “provavelmente um dos momentos de gravação mais espirituais” de sua vida, e que estar com todos os executivos ao redor dela, em silêncio, a ouvindo cantar serviu como um estímulo tremendo. “Minha voz alcançou notas que eu nunca tinha conseguido. Cantei duas vezes e fui embora, nem precisei me esforçar.” — Marcella Fronterota

8. My Prerogative
greatest hits: my prerogative, 2004

Depois de expandir sua popularidade com o quarto álbum, In The Zone, Britney tinha todas as condições para lançar uma série de grandes sucessos — apesar de eventos dos meses anteriores parecerem ser convenientes. Todo o cronograma de lançamento do álbum foi afetado quando a cantora sofreu uma lesão no joelho durante as filmagens do videoclipe de Outrageous. Britney passou vários meses em reabilitação após a grave lesão, que a levou a uma cirurgia artroscópica no joelho. No entanto, algo muito mais significativo estava ocorrendo ao lado disso: um romance promissor e tumultuado com Kevin Federline. Embora a recuperação de Britney tenha sido apenas um obstáculo transitório, tornou-se claro que suas prioridades haviam mudado. Ela estava obcecada pela nova relação e de repente não se importava mais com o que significava ser uma estrela pop. Deste modo, Greatest Hits: My Prerogative ofereceu uma maneira de superar o que estava acontecendo, afinal de contas, o material tinha a qualidade necessária para ser vendido em uma época que o mundo clamava por mais Britney Spears.

Sendo assim, Britney lançou o lead single My Prerogative em 2004. A música, originalmente escrita por Bobby Brown e Gene Griffin e lançada em 1988, só ganhou popularidade quando a versão feita pela cantora chegou ao mainstream. Inspirados pelo desejo de Brown de afirmar sua independência, os compositores queriam um hino que elogiasse a liberdade de escolha e a individualidade. A letra transmite um sentimento de rebelião contra as normas sociais e o desejo de tomar decisões por conta própria sem ser julgado ou criticado, um tema comum na carreira de Britney. Sua entrega nesta música amplia a mensagem, demonstrando sua determinação e firmeza em se libertar do padrão que lhe foi imposto desde os tempos da Disney. A música sugere que Britney está deixando claro que não se conformará com as expectativas sociais e está decidindo viver sua própria vida. O refrão serve como um forte lembrete de que as pessoas têm o direito de permanecerem fiéis a si mesmas, e a rebelião de Britney é evidente, encorajando os ouvintes a defender suas próprias prerrogativas. — Daniel Cutrim

7. Why Should I Be Sad
blackout, 2007

Em 2013, durante as promoções para divulgar o pavoroso Britney Jean, não era incomum que Spears se referisse ao projeto como seu “álbum mais pessoal até então”. É estranho pensar que, quando foi finalmente lançado, o disco nada mais seria que um compilado de faixas sonora e narrativamente desconexas que falhavam em representar quem Britney era como artista, ou o que estava acontecendo em sua vida na época. Entre todas as controvérsias e críticas que acompanharam o projeto, a mais popular é, provavelmente, a chamada “Deserto Tour”, que se tornou um evento folclórico na carreira da cantora. Naquele mesmo ano, Spears faria uma aparição no programa Good Morning America, e tudo apontava que ela faria uma performance de Work Bitch no deserto de Las Vegas. Para a frustração de todos, tudo não passava do anúncio de sua primeira residência em um dos principais cassinos da cidade

Mas antes de Vegas se tornar palco de suas famosas residências, a cidade sediou acontecimentos extremamente importantes na vida pessoal de Britney. Foi lá que, em 2004, casou-se durante a madrugada com um amigo de infância — só para o matrimônio ser anulado 55 horas depois. Também foi lá que, em meados de 2006, a cantora apareceu, grávida de seu segundo filho, na porta de um clube noturno que estava sendo usado por seu então marido, Kevin Federline, para gravar um de seus trágicos projetos musicais. Os seguranças do set disseram a Britney que Kevin não queria vê-la e, pela janela, ela viu seu parceiro usando drogas, rindo e cercado de amigos. Spears havia pago por todas as despesas da produção de Federline, o que tornou tudo ainda pior. O ocorrido inspirou Why Should I Be Sad, música incluída no Blackout. Além de ser o tipo de faixa que os fãs esperavam no Britney Jean, já que supostamente se tratava do disco mais pessoal de Spears, Why Should I Be Sad é inteiramente literal ao se referir ao seu matrimônio com o ex-dançarino.

“Eu te mandei para Vegas com o bolso cheio de grana sem fazer nenhuma proibição”, canta. “Pensei ‘o que pode nos separar?’, mas parece que Vegas só trouxe o traidor em você”. A música é marcada por um r&b mais agressivo que suas outras canções, com um coro esporádico no fundo que diz para Britney que está na hora de ir embora. Mais tarde, a cantora avisa para Federline que ele não precisa se preocupar com seus filhos, pois eles seriam bem criados por ela. Promete, ainda, não contar sobre as falhas do pai para as crianças, ainda que as “revistas de fofoca tentem intervir”. No fim, Why Should I Be Sad traz uma reflexão importante: por que é que ela precisa ficar triste por alguém como ele? Spears conclui que não precisa e que é hora de seguir em frente; “estou cansada de cantar músicas tristes”. — João Victor Mothé

6. Piece of Me
blackout, 2007

Se você acha que as redes sociais proporcionam a pior forma de assédio midiático possível, experimente viver na era dos paparazzi. Em 2007, a agência fotográfica estadunidense X17 faturou cerca de 2.5 milhões de dólares só vendendo imagens de Britney Spears para revistas de fofoca. Conforme reportado pela MTV, a amplamente conhecida imagem da cantora raspando a cabeça numa barbearia chegou a valer 500 mil dólares. E embora o caos daquele ano tenha definitivamente contribuído para essa obsessão invasiva dos tablóides, nada disso começou em 2007: desde a sua estreia, todo mundo queria um pedaço da princesa do pop. Quer estivesse com seu filho nos braços casualmente visitando uma cafeteria ou saindo de um clube noturno com uma amiga, Britney era incessantemente seguida e perseguida por fotógrafos. Por essas razões, o sarcasmo de Piece of Me, um dos singles do Blackout, é trágico, mas verídico. Com exceção a, talvez Lady Di e Paris Hilton, nenhuma outra celebridade foi tão assediada pela mídia quanto Spears. E não é como se eles não soubessem o que estavam fazendo, já que, em 2008, a USMagazine revelou que obituários de Britney Spears já estavam redigidos e prontos para serem publicados no caso de alguma fatalidade.

“Sou a miss sonho americano desde que eu tinha dezessete anos” é, sem dúvidas, uma das frases de abertura mais icônicas da cultura pop — principalmente porque é verdade. Em Piece of Me, Britney não está tentando inflar seu ego ou se vangloriar de sua fama, mas sim reconhecê-la sem necessariamente adotar uma postura de vítima. Em sua autobiografia, ela menciona o período com pesar: “Tudo o que eu fazia com os meus bebês era registrado. Quando dirigi para fugir dos paparazzi com Sean Preston no meu colo, isso foi considerado uma prova de que eu era incapaz. Eu estava com ele quando fui encurralada pelos paparazzi no Malibu Country Mart também — eles continuaram me fotografando enquanto, presa, eu o abraçava e chorava.”

Bem como todos os outros vídeos do Blackout, o clipe da música foi gravado com Spears usando uma peruca e retrata, satiricamente, a obsessão irrefreável dos fotógrafos e da mídia por ela. O refrão de Piece of Me reproduz diversas das manchetes frequentemente associadas a Britney na imprensa sobre sua aparência, companhias e desventuras, num retrato cruel daquele período infernal de sua vida. — João Victor Mothé

5. Everytime
in the zone, 2003

Tida como a música mais íntima do catálogo de Spears, a letra de Everytime costumava, no passado, ser compreendida por seus fãs como uma carta de arrependimento da cantora para Justin Timberlake. Na época, narrativas centradas na suposta infidelidade de Britney dominavam a mídia e eram, sobretudo, reforçadas direta e indiretamente por Timberlake. À princípio, a faixa relata o arrependimento do eu-lírico, que sente falta de um antigo parceiro que havia, por conta de um erro, a deixado. “Minha fraqueza te causou dor, e essa música é o meu pedido de desculpas”, canta Britney, sobre uma melodia de piano que mais parece uma canção de ninar. Na noite de gravação do DVD da Onyx Hotel, turnê de divulgação do In The Zone, a cantora antecedeu Everytime com um monólogo: “não sei se vocês têm lido a imprensa, mas os últimos meses têm sido uma montanha-russa”, disse.

Dentre as inúmeras revelações da autobiografia de Spears, The Woman In Me, a de que a cantora havia abortado um filho de Timberlake foi particularmente surpreendente e ofereceu um novo significado para Everytime. “Se ele não queria se tornar pai, eu não sentia que tinha muita escolha”, escreveu Britney. “Não queria forçá-lo a fazer algo que ele não queria. Nosso relacionamento era importante demais pra mim”. A descoberta fez com que os fãs reavaliassem a composição e, em retrospecto, lembrassem da performance da música no especial que a artista fez para a ABC em 2003, na qual Britney toca em seu ventre diversas vezes. Embora ainda se tratem de especulações, visto que nada foi definitivamente confirmado pela cantora, Everytime ganhou, certamente, um peso ainda maior em sua discografia. — Victor Rufino

4. What It’s Like to Be Me
britney, 2001

Sim, essa faixa foi, infelizmente, co-escrita por Justin Timberlake, meses antes do início de sua intensa campanha de difamação contra Spears. Mas se esse detalhe for deixado de lado por meros três minutos, é fácil enxergar o porquê de What It’s Like to Be Me ser uma das canções mais significativas dos primeiros cinco anos da carreira de Britney. Toda a faixa é uma mensagem de auto-afirmação poderosa, um statement de autenticidade e independência. A letra não só convida um amante em potencial para passar um dia na vida da maior estrela pop de seu tempo, mas também o próprio ouvinte. A música faz parte do álbum autointitulado de Britney, que veio depois de uma sucessão de dois discos domados pelas demandas de sua gravadora e pela sonoridade bubblegum da época. O projeto rompe de vez com a imagem virginal meticulosamente construída e imposta por sua equipe de marketing ao trazer singles produzidos pelos The Neptunes, como I’m a Slave 4 U e Boys, conhecidos pelas performances sensuais e sonoridades mais alinhadas com o urban pop.

Na Dream Within a Dream Tour, as apresentações de What’s Like to Be Me contavam com uma das coreografias mais difíceis da carreira da cantora, que, sempre com muita energia e precisão, entregava tudo de si a cada show. — Helena Sbrissia

3. Touch of My Hand
in the zone, 2003

Em sua autobiografia, Britney não poupa elogios sempre que se refere a Madonna. E como poderia, aliás? A influência da rainha do pop é inegável em todas as artistas femininas do gênero e, não raramente, é mencionada como a principal inspiração de diversas outras cantoras. No The Woman In Me, Spears revelou que tornou-se comum encontrar Madonna em vários eventos pelo mundo e, embora não tenham se tornado próximas logo de início, ela foi uma das poucas pessoas que visitou Spears durante um momento particularmente difícil de sua vida, após o término com Justin Timberlake. “A Madonna, de muitas maneiras, me influenciou positivamente. Ela era um exemplo de força que eu precisava ter”, confessa Britney. “Havia diversos modos de ser uma mulher na indústria fonográfica: você poderia ter a reputação por ser uma diva, poderia ser profissional, ou poderia ser “legal”. Eu sempre me esforcei para agradar”.

Se o álbum Britney já havia introduzido a mudança de imagem da cantora, o In the Zone marcou definitivamente a transição da carreira de Spears — de ídolo adolescente a uma mulher madura e segura de sua sexualidade. Notoriamente mais sensual que seus projetos antecessores, o disco abusa de uma sonoridade suave que, recorrentemente, abusa de instrumentos pouco convencionais para o pop radiofônico. É o caso de Touch of My Hand, que não só opera numa fórmula diferente das canções mais conhecidas da princesa do pop, mas também, liricamente, é um atestado explício da influência de Madonna sobre ela. Embora recorra a algumas analogias e eufemismos poéticos, a música é, essencialmente, sobre prazer feminino: Britney diz estar descobrindo o prazer provocado por seu próprio toque e, na ausência de um amor, pretende dar conta de seus desejos sozinha. Com cordas e flautas, a canção é uma das favoritas dos fãs entre toda a discografia de Spears e é obviamente inspirada na ousadia de Madonna que, anos antes, em seu álbum Erotica, havia produzido uma faixa corajosa e sensual sobre sexo oral feminino, Where Life Begins.

Para a HipOnline, Britney disse que considera a letra de Touch of My Hand empoderadora para jovens garotas: “eu adoro o assunto que estou abordando porque ninguém fala disso; as pessoas parecem ter medo demais“. Esse mesmo tipo de metáfora sexual pode ser encontrado em outras canções de destaque do catálogo de Spears, como Don’t Hang Up e Phonography, faixas bônus do In the Zone e do Circus, respectivamente. Muito antes da internet intermediar relações à distância, Britney já falava sobre fazer sexo por telefone de forma divertida. — Victor Rufino

2. Overprotected (The Darkchild Remix)
britney, 2002

Um dos singles de seu álbum auto-intitulado, a mensagem de Overprotected é quase profética, ou o prelúdio de uma mudança drástica de imagem para Britney. Ela diz que está cansada de todos dizerem o que ela deve fazer e que, por ter sido tão superprotegida por toda a sua vida, quer fazer suas escolhas por conta própria. Nesse sentido, é nítido que o videoclipe da faixa original seja mais eficiente em ilustrar essa narrativa, mas, com o lançamento de sua autobiografia, a cantora fez algumas revelações sobre a versão remixada de Overprotected, feita pelo produtor estadunidense Darkchild. Na época, Justin Timberlake, seu então namorado, estava se preparando para lançar seu primeiro álbum solo e, segundo a artista, tornou-se cada vez mais distante: “Acho que foi porque havia decidido me usar como munição para seu álbum, então ficou estranho para Justin estar perto de mim, que olhava para ele com tanto carinho e devoção”.

A cruel e injusta estratégia escolhida por Timberlake e sua equipe para promover o cantor após sua saída do ‘N SYNC não é uma novidade para os fãs de Britney mas, o que não se sabia, era que Justin havia terminado o relacionamento com ela por mensagem de texto, enquanto Spears estava no set de filmagem do remix de Darkchild de Overprotected. “No intervalo entre as tomadas, li a mensagem enquanto estava no meu trailer, e depois tive que voltar a cantar e dançar”, contou no The Woman in Me. Para a Page Six, o diretor do vídeo de Overprotected (The Darkchild Remix), Chris Applebaum, relatou que, mais para a metade da filmagem, Britney havia desaparecido por cerca de vinte à quarenta minutos. Applebaum revela que, ao chegar no trailer de Spears, a cantora estava sentada no chão, chorando e com a maquiagem borrada. “Eu não acredito nisso, olha!”, disse Spears, mostrando para o diretor uma mensagem que Timberlake a havia enviado anunciando o fim do namoro. A cantora só foi convencida a voltar ao set por influência de sua querida assistente, Felicia Cuota, e pelas palavras de Applebaum: “se você não puder, nós entendemos. Mas se você quiser voltar lá e terminar as últimas tomadas na chuva, você pode mostrar pra ele que ele cometeu o pior erro da vida dele”. E foi o que Britney fez, não só provando seu imenso profissionalismo, mas também criando um de seus videoclipes mais memoráveis. — João Victor Mothé

1. Breathe on Me
in the zone, 2003

Ocupar o topo de uma lista das melhores músicas do catálogo de uma artista cujo a carreira atravessa quatro décadas não é uma tarefa fácil, mas a sensualidade urgente e delicada de Breathe on Me costuma incentivar os admiradores de Spears a elegê-la como a melhor canção de sua discografia. O mesmo é bem verdade para a própria Britney, que, sempre que tem a oportunidade, insere a faixa nas setlists de suas apresentações, deixando incluir inúmeros de seus hits mais populares para performar Breathe on Me. A música é inventiva na mesma proporção que é deliciosa: elementos de trip hop demarcam um arranjo diversificado que, numa miscelânea de influências, resulta em uma das faixas pop mais sedutoras da história. Os vocais de Britney são por vezes abafados e dividem espaço com gemidos discretos e longos e profundos suspiros. Ela não está convidando um parceiro para tocá-la: ela está implorando, demandando. A ponte não só é o ápice da música, mas também parece ser o clímax de uma relação tão intensa que é capaz de tirar o fôlego do ouvinte.

Quando Spears diz que sua atração por um amante vai muito além do físico, é fácil de acreditar. Sua voz nunca esteve tão convidativa e, ao mesmo tempo, assertiva. Por isso, quando ela diz, em Breathe on Me, que a monogamia é o melhor caminho para se seguir, é quase o suficiente para convencer até mesmo o poligâmico mais convicto. “Junte seus lábios e assopre”, pede, numa referência ao filme To Have and To Have Not, de 1944, antes de embarcar em arquejos que substituem a lírica na ponte da música. Ela não precisa de palavras para expressar seu desejo, e a música deixa isso mais do que claro. “É basicamente sobre estar com um rapaz, mas não precisar necessariamente estar fisicamente um com o outro; só a intensidade e a ansiedade enquanto não se diz nada”, contou Spears para a MTV.

Não coincidentemente, a faixa foi produzida por Steve Anderson, nome por trás da deslumbrante Confide In Me, uma das faixas mais poderosas no catálogo de Kylie Minogue. Uma vez feita, essa associação torna os paralelos temáticos e sonoros entre as duas faixas mais proeminentes. Individualmente, tanto Breathe on Me quanto Confide In Me são duas das canções mais incríveis das carreiras de Britney e Kylie que, por sua vez, também são duas das artistas pop femininas mais lendárias da história da música. Com Breathe on Me — e talvez grande parte do In the Zone —, não fica difícil de entender o porquê. — João Victor Mothé

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