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No Brasil, mas proibido de cantar: saiba a história de quando Bob Marley QUASE se apresentou por aqui

Quando falamos da única passagem de Bob Marley pelo Brasil, a primeira coisa que vem à mente é a partida amistosa de futebol que ele jogou ao lado do jogador profissional Paulo Cézar Caju e de grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Moraes Moreira, Toquinho e Alceu Valença. Porém, o que muitos desconhecem é o contexto dessa curta visita.

O cantor jamaicano veio ao Brasil para participar da festa de lançamento da gravadora alemã Ariola em solo nacional. O evento aconteceu no Morro da Urca, no Rio de Janeiro, no dia 19 de março de 1980, e contou com a presença de diversos gigantes da música.

Bob Marley não era o único artista internacional presente na festa: além dele, estavam lá, também, Jacob Miller (vocalista do Inner Circle) e Junior Marvin (guitarrista do The Wailers, banda que acompanhava Marley). Porém, o Rei do Reggae foi, com certeza, o músico mais ‘’tietado’’ do evento.

Entretanto, em virtude da Ditadura Militar da época, o cantor não pôde aceitar nenhum dos vários convites que recebeu para performar e/ou gravar ao lado de artistas brasileiros: durante a viagem de vinda, no dia 18 de março de 1980, o jato particular que trazia Marley fez uma escala no aeroporto de Manaus e um grupo de militares negou o visto de trabalho ao músico, devido à conhecida faceta militante do cantor na luta pelos direitos humanos e pela legalização da maconha.

Segundo Marco Mazzola (o fundador da Ariola Discos no Brasil), o veto dos militares frustrou os planos da executivos da gravadora, que esperavam que Marley fizesse um show na festa de lançamento da empresa no país. As atrações musicais do evento, então, acabaram sendo Moraes Moreira e Baby do Brasil.

Mesmo sem poder se apresentar ou gravar com outros músicos, Marley interagiu com várias celebridades brasileiras: além de ter conversado com vários dos artistas presentes na festa, tais como Chico Buarque, Moraes Moreira, Baby do Brasil, Toquinho, Alceu Valença, Ivan Lins, Simone e Marina Lima, o cantor jamaicano ainda foi presenteado com uma camiseta do Santos autografada pelo rei Pelé (de quem Marley era grande fã).

Bob Marley ao lado de Moraes Moreira, com a camiseta do Santos que lhe foi dada por Pelé.

Durante os três dias em que ficou no Brasil, o Rei do Reggae fez questão de elogiar publicamente vários craques da seleção brasileira de 1970, como Pelé, Rivellino e Jairzinho e, também, a versão em português que Gilberto Gil havia feito, em 1979, para o seu clássico No Woman No Cry (que, na releitura abrasileirada, virou Não Chores Mais). Entre os medalhões da MPB da época, Gil era o que mais apresentava claras influências de Bob Marley em sua obra, sendo o maior propagador da Reggae Music no Brasil, nas décadas de 70 e 80. Porém, um encontro presencial entre os dois cantores nunca chegou a acontecer.

A conhecida partida de futebol disputada por Marley ao lado de Chico, Moraes, Alceu e cia, por sua vez, aconteceu na tarde que antecedeu a festa da gravadora. A ‘’pelada’’ fazia parte de uma tradição que o cantor jamaicano seguia: como era apaixonado pelo esporte, o músico sempre dava um jeito de ‘’bater uma bola’’ ao lado de sua equipe técnica, mesmo durante as turnês. Chico Buarque compartilhava da mesma paixão, e reuniu seu time amador Politheama (que existe até os dias de hoje) para jogar ao lado do Rei do Reggae. Segundo relatos do jornal O Globo, o jogo durou apenas 30 minutos e Marley demonstrou que tinha talento com a bola nos pés.

Longe da presença das câmeras, o artista aproveitou sua passagem pelo Brasil para desfrutar do luxuoso hotel Copacabana Palace (onde ficou hospedado), conhecer alguns bares da orla e comprar alguns instrumentos musicais – um deles foi uma cuíca que acabou sendo utilizada na gravação de Could You Be Loved (mega-hit que, segundo Marley, foi composto no voo de volta para a Jamaica, enquanto o avião ainda estava em território brasileiro).

Durante entrevistas, o cantor deixou claro que possui uma grande admiração pelo nosso país, ao proferir frases como ‘’a Jamaica gosta de futebol por causa do Brasil’’ e ‘’o Samba e o Reggae são a mesma coisa: têm o mesmo sentimento de raízes africanas’’. Porém, uma segunda vinda do artista ao Brasil nunca chegou a acontecer, pois, em 1981, o músico veio a falecer, em virtude de um melanoma.

Como pautou a sua vida na religião Rastafari, Marley se recusou a amputar o dedo do pé e retirar o tumor ainda no início – uma vez que a fé em questão prega que é ‘’pecado remover qualquer parte do corpo’’ (que é visto pelos Rastafari como um ‘’templo sagrado’’). A doença se espalhou para outros órgãos do cantor (inclusive, para o cérebro), levando-o à morte.

Infelizmente, nunca tivemos um show de Bob Marley em terras brasileiras. Essa é a história da única vez em que isso quase aconteceu.

Contudo, mesmo após a morte de Bob Marley, a música do cantor continuou servindo como referência não apenas para Gilberto Gil, mas também para vários artistas brasileiros que surgiram nos anos posteriores: nomes nacionais como Cidade Negra, Tribo de Jah, O Rappa, Natiruts, Chimarruts, Maneva, Armandinho, Mato Seco, Maskavo e Ponto de Equilíbrio solidificaram o cenário do Reggae Brasileiro, nas décadas de 1990 e 2000, e sempre citaram Marley como a referência máxima para os seus trabalhos. Além disso, a influência do cantor jamaicano também é notável em obras famosas de alguns artistas brasileiros não tão comumente associados ao Reggae – tais como Skank, Os Paralamas do Sucesso, Charlie Brown Jr, Rael, Criolo, Forfun e Black Alien.

A trajetória de Bob Marley possui uma enorme importância dentro da história da música mundial. Não à toa, a vida do artista foi, recentemente, transformada em um filme biográfico, intitulado ‘’Bob Marley- One Love’’. O novo longa se encontra, atualmente, em cartaz em todos os cinemas brasileiros, desde a última segunda-feira (12).

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