Pierce The Veil: o encontro da antiga e da nova geração
Inserida em um universo post-hardcore, a nostalgia da era de ouro do emo na década de 2010 é o ponto chave para o Pierce The Veil. O grupo também combina metalcore e rock experimental, mas carrega em seu DNA raízes mexicanas dos fundadores Vic e Mike Fuentes. Pouco antes da produção do álbum de estreia, os irmãos recrutaram dois novos músicos: o baixista Jaime Preciado e guitarrista Tony Perry.
A banda anterior, Before Today, não foi convincente, e eles usaram tarde demais o seu screamo agressivo e se renomearam Pierce The Veil. Com um projeto que duraria menos de três meses, o lançamento de A Flair For The Dramatic, de 2007, trouxe bastante confiança entre os pólos dos gritos mainstream e o departamento mais progressista da gravadora Equal Vision (Fall Of Troy, Circa Survive). Recheado por influências de In Love And Death do The Used e The Black Parade do My Chemical Romance, o som teatral, thrash e dramático são indicativos não apenas da habilidade em compor de Vic Fuentes, mas também para o que esse gênero específico de bandas estava abraçando.
O burburinho inicial gerado por A Flair For The Dramatic fez do seu sucessor um dos melhores lançamentos de 2010. A instrumentação de Selfish Machines, além dos singles Caraphernelia, faixa que convida Jeremy McKinnon de A Day to Remember, e Bulletproof Love, elevaram o quarteto ao status de atração principal com riffs mais técnicos e refrões angustiados. Para os emos que estão chegando no período “crianças e boletos”, alguns desses versos podem evocar lembranças de um mosh da Warped Tour, ou pelo menos trazer à tona cicatrizes da maioridade.
Era o espírito pop punk que defendia a simplicidade nas melodias daquele tempo, de forma a recriar um apelo acessível. Com forte expansão da cena, já consolidada por nomes como Killswitch Engage, Bring Me the Horizon ou Asking Alexandria, era preciso se equilibrar na corda bamba entre a agressividade do hardcore e acessibilidade do mainstream. Foi em Colide With The Sky que eles encontraram o ponto de convergência perfeito.
Desde a introdução acústica May These Noises Startle You In Your Sleep Tonight, na qual acompanhamos a voz abafada e comovente de Vic, até os hits A Match Into Water, Hell Above, The First Punch e King For a Day, o grupo estabeleceu certos parâmetros. As bases desse disco não respondem apenas ao seu caráter autêntico, mas também à representação identitária que as letras proliferam. A maioria possui o mesmo efeito, embora utilizem truques musicais como em Bulls In The Bronx, onde você pode ouvir uma influência espanhola acompanhada de palmas rítmicas.
O enriquecimento da banda é claro: eles criam peças sem perder a energia, resultando em outros materiais diversos como Misadventures, de 2016. A nova ordem dos temas nos conduz por um carrossel de sentimentos sutis quando dá luz às faixas Dive In, Today I Saw The World, além do pop rock Circles.
Antes de seu lançamento mais recente, a saída do baterista Mike Fuentes e isolamento da quarentena fez com que o grupo encontrasse dificuldades para produzir novas canções. Esses obstáculos foram transferidos a um material que segue linhas definidas, entretanto os distancia daquele post-hardcore influente de seus primórdios.
Produzido por Paul Meany (Twenty One Pilots, Walk The Moon) e mixado por Adam Hawkins (Turnstile, Blink 182), The Jaws Of Life, 2023, é um projeto arriscado de rock experimental. Ao quebrar fórmulas originais com Shared Trauma, semelhante a Twenty One Pilots, Death Of An Executioner e a irmã do grunge, Pass The Nirvana, o disco expressa maturidade enquanto ainda visita momentos-chave do passado.
Já acolhidos por uma cena que vive de seu próprio público, Pierce The Veil agora subirá ao palco do festival Lollapalooza no sábado, dia 23 de março. A última passagem da banda pelo Brasil também aconteceu em São Paulo, durante a turnê de seu último álbum e com cobertura realizada pela Moodgate. Para saber mais sobre esse show incrível basta clicar aqui.