Chega de Mágoa: conheça a história do "We Are The World brasileiro" | Moodgate
Um novo sentimento para a música
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Chega de Mágoa: conheça a história do “We Are The World brasileiro”

O mundo inteiro sabe que, em 1985, a iniciativa U.S.A For Africa reuniu, no single We Are The World, gigantes da música americana como Michael Jackson, Lionel Richie, Bruce Springsteen, Stevie Wonder, Ray Charles, Tina Turner e Bob Dylan, em prol da arrecadação de fundos para combater a fome e as doenças no continente africano. Porém, poucas pessoas sabem que, no mesmo ano, 155 cantores brasileiros participaram de um lançamento musical beneficente que era declaradamente inspirado no U.S.A for Africa, mas possuía como objetivo ajudar populações carentes que sofriam com as consequências das fortes enchentes que aconteciam no Nordeste brasileiro, naquele período.

Promovida pelo projeto S.O.S Nordeste (atual Criança Esperança), a iniciativa reuniu nomes como Gilberto Gil, Tim Maia, Tom Jobim, Chico Buarque, Belchior, Caetano Veloso, Milton Nascimento, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Djavan, Rita Lee, Gal Costa, Elza Soares, Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Maria Bethânia, Alcione, Fagner, João Nogueira, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Pepeu Gomes, Elizeth Cardoso, João Nogueira, Simone, Paula Toller (vocalista do Kid Abelha), Ivan Lins, Alceu Valença e Roger Moreira (vocalista do Ultraje a Rigor) em um EP de duas canções intitulado Nordeste Já. Tal compacto recebeu uma tiragem de apenas 500 mil cópias e foi disponibilizado em formato físico somente para aqueles que doaram 10 mil cruzeiros ou mais para a construção de centros comunitários em cidades do Nordeste, através de alguma das agências da Caixa Econômica Federal.

Capa (frente e verso) do vinil Nordeste Já, de 1985.

O lado A desse EP, Chega de Mágoa, é uma composição de Gilberto Gil com colaborações de Chico Buarque, Caetano Veloso, Fagner, Milton Nascimento, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Vinícius Cantuária e Djavan. O lado B, Seca d’ Água, era, por sua vez, uma musicalização em ritmo de Forró do poema homônimo criado por Patativa de Assaré. Entretanto, em prol da ação solidária, todos os compositores abriram mão dos royalties e demais créditos, assinando o trabalho como criação coletiva.

Nordeste Já foi lançado apenas dois meses depois de We Are The World, em maio de 1985. A faixa escolhida para ser o carro-chefe do EP foi Chega de Mágoa. por ser uma canção mais Pop e reunir um número muito maior de cantores do que Seca d’ Água.

Gravada com a participação de mais de 130 cantores, Chega de Mágoa já começa com o lendário Milton Nascimento cantando em cima de um instrumental de piano tocado por ninguém menos do que Tom Jobim. O que vêm em seguida são vocais solo de Djavan, Rita Lee, Gal Costa, Gonzaguinha, Elba Ramalho, Chico Buarque, Fafá de Belém, Caetano Veloso, Simone, Paula Toller, Roger Moreira, Maria Bethânia, Eliseth Cardoso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia e Fagner (nessa ordem) sendo intercalados com momentos de coro, onde todos os artistas que estavam presentes no Multi Studios (Rio de Janeiro) cantaram juntos.

Os jornalistas da época fizeram críticas à má harmonização do coro de vozes da gravação, porém, rasgaram elogios para cada uma das performances de solo vocal presentes nela e, também, para a ótima levada instrumental da canção, que misturava MPB com Reggae.

Na época de seu lançamento, Chega de Mágoa tocou bastante nas rádios e nas emissoras de televisão nacionais, ficando popularmente conhecida como a ‘’We Are The World brasileira’’, por se tratar de uma canção inédita que promovia um encontro entre gigantes da música de um país em favor de uma causa importante. O sucesso do single e a grandiosa reunião promovida por ele fizeram com que as 500 mil cópias feitas para o EP Nordeste Já se esgotassem em poucos dias.

Apesar disso, com o tempo, esse grande acontecimento da música brasileira acabou se tornando um fato pouco conhecido entre as gerações mais contemporâneas. Alguns atribuem o ‘’esquecimento’’ desse ocorrido ao fato de que Nordeste Já não foi incluído em plataformas digitais como o Spotify e o Deezer, enquanto outros acreditam que o desconhecimento de muitos a respeito desse encontro histórico se deve à tiragem muito limitada do compacto (que é, hoje, uma raridade).

Esta, porém, é uma história que merecia ser contada e não pode deixar de ser conhecida pelos fãs de música. Ao reunir praticamente todos os maiores artistas brasileiros vivos daquela época em Chega de Mágoa, o projeto Nordeste Já promoveu um encontro de proporções que nunca foram repetidas dentro da música brasileira e, talvez, nunca se repetirão.

Confira, também, o lado B do compacto, Seca D’Água:

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