The Smiths - The Queen Is Dead (1986) | Moodgate
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The Smiths – The Queen Is Dead (1986)

Em um verão mágico, há 37 anos, surgiu uma obra-prima transcendental que ecoa até os dias atuais. Em um turbilhão criativo, as mentes brilhantes por trás dos Smiths, Morrissey e Johnny Marr, teceram um feitiço musical durante a mística turnê do álbum Meat Is Murder. E foi ali que começou a surgir letras e notas, que nasceram canções que se tornariam o auge fulgurante de uma carreira encurtada, mas intensa. Agora, iremos mergulhar no universo desses mestres melancólicos, analisando a essência inconfundível dos Smiths.

Encontramos ali um Morrissey irônico e vingativo sobre o conservadorismo imposto pelo governo da Margaret Thatcher, Ex-primeira-ministra do Reino Unido, da epóca (1979 a 1990). No mesmo fôlego, o vocalista nos pega pela garganta e faz a gente chorar lágrimas quentes nos hinos à solidão e ao isolamento que são I Know It’s Over e Never Had No One Ever. E o homem atinge seu pico de baço dramático em there is a light that never goes out, que pode ser interpretada como uma celebração mórbida da morte e do desejo de escapar da vida mundana. A romantização do sofrimento e da autodestruição é um tema recorrente na obra dos Smiths, e esta canção não é exceção.

Impossível ficar indiferente a esta pérola:

“E se um ônibus de dois andares nos antigir, morrer ao teu lado, é uma maneira tão divina de morrer. E se um caminhão de dez toneladas, matar a ambos, morrer ao seu lado, bom, o prazer, o privilégio é meu.”

Musicalmente, as seis cordas de Johnny Marr são deslumbrantes_._ Basta ouvir o solo final de The Queen Is Dead para perceber que o guitarrista foi inquestionavelmente um dos maiores instrumentistas de seu tempo, além de um compositor excepcionalmente criativo e expressivo. O álbum foi Produzido mais uma vez pelo amigo e companheiro Stephen Street, a gênese desse grande disco não foi necessariamente fácil.

A atmosfera dentro dos Smiths não era boa, longe disso. Marr sentiu que o imponente personagem de Morrissey ocupava muito espaço na mídia, relegando o trabalho criativo dos três acompanhantes para segundo plano. O baixista Andy Rourke lutou com problemas de uso de heroína; uma droga implacável. Apesar de tudo, o ambiente no estúdio era, ao que parece, harmonioso; os quatro músicos preferem concentrar seus esforços no resultado dessa criação futura, e não nas tensões subjacentes. Essas tensões relacionais soarão com mais evidência e de forma permanente durante à produção e o lançamento do álbum Strangeways, Here We Come , lançado no ano seguinte.

O elemento central da dupla Marr/Morrissey (especialmente em The Queen Is Dead) reside na alternância entre as observações às vezes mordazes de Morrissey e o rock romântico, refinado e elegante composto por Marr. É um contraste desconcertante, porém revitalizante, como se a essência punk da banda fosse domesticada para transmitir a mensagem de forma mais eficaz.

A faixa-titulo é um monumento irônico à desnecessária realeza britânica. Enquanto God Save The Queen dos Sex Pistols flertava com o tema, The Queen Is Dead zomba de todos os membros monarcas do Reino Unido. Logo em seginda nos temos, de forma franca, a música Frankly, Mr. Shankly ridiculariza Geoff Travis, o presidente da Rough Trade. O tom da canção traz o tom de frustração e desdém em relação às dificuldades enfrentadas pela banda na indústria da música, especialmente em relação à sua gravadora e ao presidente.

Cemetry Gates é uma referência ao poeta favorito de Morrissey : Oscar Wilde. O cantor era um grande admirador do trabalho de Wilde, identificando-se com sua perspicácia, estilo literário e sua natureza contestadora. Através da temática de visitar túmulos em um cemitério, Morrissey expressa seu amor pela poesia e pelas artes, ao mesmo tempo, em que critica a falta de reconhecimento e compreensão que ele sente por parte do público e da mídia.

Kristy MacColl, uma talentosa cantora e compositora que faleceu em 2000, empresta sua voz misteriosa à música Bigmouth Strikes Again. Com seus compassos alternados, o ritmo enérgico da música ressoa nas memórias dos “bons e velhos tempos” da música alternativa. A colaboração de MacColl com os Smiths acrescenta um elemento especial à música, elevando-a com sua presença vocal única. Sua voz se mistura harmoniosamente com a entrega marcante de Morrissey, criando um contraste interessante entre os dois artistas.

O álbum termina com Some Girls Are Bigger Than Others, uma das faixas mais intrigantes do álbum. A frase ‘Some Girls Are Bigger Than Others’ pode ser entendida de diferentes maneiras, dependendo do contexto. Alguns sugerem que a música trata da obsessão pela aparência física e da valorização da beleza externa. Outros interpretam a letra como uma crítica à superficialidade da sociedade e à importância dada ao status social e ao poder.

No entanto, como acontece com muitas das músicas dos Smiths, a interpretação das letras é subjetiva e aberta à individualidade de cada ouvinte. A ambiguidade da música permite que os ouvintes criem suas próprias reflexões e significados pessoais.

Bônus? A capa do álbum. Ela foi desenhada pelo próprio Morrissey e a arte apresenta o ator francês que virou empresário, Alain Delon, no filme noir de 1964 L’Insoumis (Terei o Direito de Matar?). Delon escreveu para os Smiths e deu-lhes a aprovação para usar sua imagem. No entanto, a oferta veio com uma condição, como ele revelou em sua autobiografia: “Eu disse a eles que meus pais estavam chateados que alguém chamasse um álbum de The Queen is Dead.”

The Smiths lançaram quatro grandes discos e mesmo que hoje Morrissey possa te irritar, seria de má-fé em não reconhecer a imensa contribuição da formação para a história do rock. Todos os grandes nomes do tsunami do Britpop que assolou o final dos anos 90 reivindicaram o legado musical dos Smiths. The Queen Is Dead é um clássico que envelhece lindamente, ponto final.

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joelrneto12@gmail.com

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