Marcelo D2 é o artista mais versátil da música brasileira, e nós podemos provar
Apreciar diversos estilos musicais é algo comum entre os profissionais da música, mas poucos conseguem transparecer sua ecleticidade dentro de seus próprios trabalhos autorais e, muito menos, se destacar em todos os gêneros distintos pelos quais transitam, assim como faz Marcelo D2.
Só nos últimos dois anos, o rapper e cantor carioca foi aclamado por dois lançamentos totalmente diferentes um do outro: em 2022, à frente do Planet Hemp, ele voltou a incorporar o peso do Rock ao Hip Hop, com o álbum Jardineiros, o primeiro da banda em 22 anos, e, em 2023, lançou, em carreira solo, Iboru – o primeiro álbum autoral onde D2 colocou o Samba como protagonista. Simbolizando um momento de espiritualidade e amadurecimento na carreira de D2, Iboru veio acompanhado de shows incríveis e da adição do artista à line-up de vários festivais pelo país, além de ter figurado na lista de melhores discos de 2023 na Moodgate.
A sonoridade desse último trabalho vem sendo descrita pelo rapper/cantor como ‘’Novo Samba Tradicional’’. Isso porque, em Iboru, o Hip-Hop (gênero que sempre esteve muito presente em todos os trabalhos autorais de D2) se torna apenas um leve ‘’tempero’’ para o Samba, estando representado somente pela presença de alguns elementos sutis em faixas como Tambor de Aço, O Samba Falará + Alto e Kalundu. Porém, mesmo discreta, essa agregação dá um sabor especial ao álbum, e só poderia ter sido feita por alguém capaz de atuar em muitas vertentes musicais, assim como D2.
Por mais que o artista já tenha gravado algumas canções pesadíssimas ao longo de sua carreira (como 100% Hardcore, Seus Amigos, Mantenha o Respeito e Procedência C.D), o anúncio de um álbum autoral de Samba não chocou àqueles que acompanham a carreira de D2. Afinal, o músico nunca escondeu sua paixão pelo gênero, tendo lançado, anteriormente, quatro aclamados trabalhos autorais onde ele versou seus raps em cima de instrumentais brasileiríssimos de Samba: Eu Tiro é Onda (1998), A Procura da Batida Perfeita (2003), Meu Samba é Assim (2006) e A Arte do Barulho (2008). Em Iboru, ele, basicamente, inverteu a fórmula utilizada nesses quatro álbuns, colocando o Hip-Hop como pano de fundo para o Samba, ao invés de seguir fazendo o contrário.
Além disso, muito antes de Iboru, D2 já havia se aventurado no Samba de raiz ao se apresentar diversas vezes ao lado de nomes como Zeca Pagodinho, Alcione, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara e Bezerra da Silva, sempre se referindo a eles como alguns dos ‘’verdadeiros arquitetos da música brasileira’’. Em 2011, D2 chegou a lançar um álbum-tributo cantando apenas clássicos de Bezerra da Silva (falecido em 2006), para homenagear este, que foi uma das maiores referências para as suas letras, desde a época do surgimento do Planet Hemp.
Aliás, D2 sempre deixou claro que o leque de artistas que o inspiram é muito amplo e inclui nomes de diversos estilos – a exemplo de Dead Kennedys, João Nogueira, Beastie Boys, Ratos de Porão, James Brown, A Tribe Called Quest e Jorge Ben Jor. Por incrível que pareça, todas essas influências são percebíveis ao longo da vasta discografia do artista carioca – composta por 13 álbuns de estúdio (nove em carreira solo e quatro com o Planet Hemp), nos quais D2 vai do Samba ao Hardcore, passando pelo Hip Hop e pelo Rock e, muitas vezes promovendo misturas interessantíssimas a partir desses gêneros citados.
A polivalência de D2 também fica explícita quando vemos sua lista de colaborações em estúdio: ao longo de sua carreira, o cantor/rapper já gravou ao lado de artistas como Bezerra da Silva, Gilberto Gil, Seu Jorge, Charlie Brown Jr, Zeca Pagodinho, Chico Science & Nação Zumbi, Alcione, O Rappa, Criolo, Ponto de Equilíbrio e Djonga. Através do prestígio que conquistou entre distintas ‘’tribos’’, o rapper/cantor consegue ser, frequentemente, uma ferramenta para quebrar preconceitos, não apenas relacionados às temáticas sociais abordadas em muitas de suas letras, mas também a respeito de diferentes estilos musicais.
Atualmente, o artista está na estrada divulgando, paralelamente, seus dois álbuns mais recentes. É possível encontra-lo por aí comandando intensos mosh pits ao lado dos demais integrantes do Planet Hemp e, poucos dias depois, vê-lo ao centro de uma roda de samba, cantando as canções de seu álbum Iboru e, também, clássicos de nomes como Beth Carvalho, Leci Brandão e Grupo Fundo de Quintal. Qual outro artista brasileiro atingiu ESSE nível de versatilidade?
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